Novo disco do grupo britânico Idles, "Tangk", é bravo e destemido como um leão e belo e frágil como uma flor. É já um dos melhores do ano.
Corpo do artigo
Potente e harmonioso, valente e vulnerável, triste e otimista. Os contrastes andam de mãos dados no novo disco dos Idles, “Tangk”, que confirma os britânicos como o nome mais excitante – e muito acima dos outros – do rock atual.
Há menos de uma década, os Idles andavam a tocar em bares, mas cedo se viu que o nível de energia e talento da banda dificilmente ficaria contido em pequenas salas. “Joy as an act of resistance” trouxe-os para a ribalta e, seis anos e dois discos depois, surge “Tangk”, um sério candidato a melhor disco do ano – e garantia de que o rock está bem e recomenda-se.
É um cocktail de energia e sentimento de 11 temas e 40 minutos, duração mais que suficiente para chegarmos ao fim do disco empaticamente esgotados. Desta vez, além da entrega contagiante, os Idles trouxeram mais uma arma: a produção de Nigel Godrich, eterno cúmplice musical dos Radiohead.
Este contributo foi o ingrediente que faltava para catapultar os Idles para um nível superlativo. A emoção e energia continuam lá, mas agora são enriquecidas por toda uma nova paleta de recursos e arranjos. Isto permitiu enquadrar eficaz e musicalmente todo o potencial que se encontrava à deriva. É quase como que uma fera indomável que fez terapia. Continua selvagem, mas agora já sabe de onde vem e para onde canalizar toda a sua raiva. E em “Tangk”, mesmo nas músicas mais calmas e melódicas, há uma força vulcânica latente prestes a explodir.
“Dancer” é um exemplo perfeitos da nova fase: arranca com um baixo quase subsónico que nos estremece as entranhas e depois aterra num refrão dançável, floreado por coros pop, até regressar ao potente ritmo marcial de bombo e baixo. “Pop pop pop” estende uma manta de distorção eletrónica grave e potente numa batida quebrada e apurada. Já “Roy” e seu refrão cósmico mostram todo o novo alcance vocal e melódico de Joe Talbot.
“Tangk” é um disco contagiante que nos agarra pelos ombros e pelas ancas e nos faz pular, dançar, cantar e berrar. É um disco que nos faz sentir bem e que nos mostra porque é que o rock nunca morrerá. Haja talento para o saber tocar. Os Idles têm-no para dar e dar.
A banda, que no mês passado atuou no Porto, vai voltar ao Festival Vodafone Paredes de Coura, onde esteve em 2022, em agosto deste ano.