Máscaras ao alto, vai-te embora chuva, passem-se da cabeça. A metamorfose Animal Collective está no Primavera, dez álbuns e quinze anos depois do quarteto de Baltimore ter despertado.
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A chuva não tinha dado tréguas no concerto anterior, de Parquet Cours, mas parou para que milhares desfrutassem da experiência sensorial e metamórfica de 70 minutos com que Animal Collective brindou a Invicta. São Pedro, se estava atento, deixou a chuva quieta para não estragar a música. E que música.
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O novo álbum, "Painting With", deu o mote para a abertura, com "Hocus Pocus", e logo o Pop Psicadélico contagiou a relva do palco NOS, transformada numa pista de dança onde cada bailarino experimentava o momento à sua maneira. Ficou de fora muita qualidade musical, mas era tarefa impossível juntar em pouco mais de uma hora tudo o que de bom a banda tem no currículo.
Ainda assim, estiveram lá "Golden Gal", Alvin Row" e "The Burglars" antes de um encore que deixou o Nos Primavera Sound sedento por mais. O regresso deu-se, claro está, com "Bees", Summing the Wretch" e, para acabar, "FloriDada". Enquanto isso, as iluminações psicadélicas de roxos, azuis e laranjas iluminavam as máscaras que compunham o cenário criado para o concerto.
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Brian Weitz, ou Geologist, já tinha dito que "Painting With" reunia de forma exata tudo o que passou pela cabeça dos norteamericanos durante o processo de criação. A julgar pelo resultado, é caso para aconselhá-los a que se continuem a passar da cabeça.
Um jogo de sentimentos chamado Sigur Rós
Estamos habituados a olhar para os povos do norte como sendo frios e até pouco sensíveis. Os Islandeses Sigur Rós resolveram vingar-se desta ideia pré concebida através de um jogo de sentimentos na primeira grande atuação do NOS Primavera Sound 2016. Já fazem parte do imaginário dos adeptos do indie há mais de uma década e meia. Regressaram ao Porto depois do concerto intimista no Coliseu do Porto, em 2013, para um festival ao ar livre.
Munidos de um complexo jogo de luzes e som, responderam afirmativamente às boas críticas espanholas aquando do concerto da semana passada, em Barcelona. Começaram por embalar o público com temas como "Óveðu" ou "Sæglópur". Quase como em confronto com o ritmo baixo do início, lançaram "Festival" e a "Hafsól", obrigando os que estavam sentados a subir uns degraus para acompanhar o ritmo que se impunha no palco.
É impossível só ouvirmos Sigur Rós sempre que tocam ao vivo. Há que sentir aquilo que cada acorde transmite. Principalmente quando acompanhado pelo jogo de luzes que o trio apresentou esta noite. Esta combinação de elementos funcionou numa convergência quase perfeita, sendo esse mesmo o ponto alto do concerto. Como aspeto menos positivo podemos referir a qualidade do som que no início do concerto não fez jus àquilo que acontecia em palco.
Elogios ao Porto num pop teatral e místico
O baixo volume do som não chegou para esconder a voz sublime de Julia Holter. A eventual falta de volume, percecionada por alguns, foi o único senão de um concerto sublime onde não faltaram elogios à cidade-invicta e um punhado de boas músicas que deixaram a turba festivaleira encantada.
Inicialmente tímida, a californiana mostrou toda a versatilidade do seu Art Pop a meio do concerto. "Have You in My Wilderness" é um álbum que destoa do resto, de tão bom que é. Julia prova-o em "Feel You. Referência, ainda, para o duo de cordas - violino e contrabaixo - que a acompanha e que fazem da performance um exemplo do que pode ser o bom Pop. Teatral e místico. Logo a abrir o concerto, mostrou-se impressionada com a beleza do recinto: "O Porto é tão bonito, gostava de ficar cá mais tempo".
Wild Nothing é Jack Tatum
No palco Super Bock P4K, Wild Nothing deram o concerto mais seguro. Apesar dos constantes feedbacks na voz de Jack Tatum, o americano solta um insulto e continua a brilhar. Voz grave e baixo forte são os ingredientes mais distintivos dos Wild Nothing. Mas o conjunto vive muito de Jack Tatum. Nota-se que é ele quem compõe e produz.
"Life of Pause" é um álbum que ainda não está no ouvido mas temas como "Nocturne", do disco homónimo, dão uma aura roqueira que fica bem ao quinteto da Virgínia. O concerto foi uma espécie de retorno aos sons dos anos 80. O Soul está lá o Pop também, mas o rock foi o estilo mais aplaudido da multiplicidade apresentada ao fim da tarde.
US Girls aquecem o primeiro público
Terá ficado aquém da expectativa que tínhamos, mas o concerto das US Girls teve as suas recompensas. Foi a segunda banda a entrar em palco no primeiro dia.
Confirma-se: Meghan Remy podia ser mesmo uma personagem de David Lynch, isto é, trivial e acessível mas ao mesmo tempo insondável e cheia de enigmas e, sim, concordamos, trazia um collants subidos muito estranhos.
A estreia da banda americana de noise pop em Portugal, a abrir o Palco Nos do primeiro dia do Primavera Sound Porto, com o público a chegar relaxado e a espreguiçar-se na encosta, não atingiu o nível de fulgência que o disco "Half free" nos oferece, mas, o concerto foi recompensador, ainda que ligeiramente estranho e com pouco adesão.
Ponto alto: a magnífica canção de contestação "New age thriller" ("Acordem antes que seja tarde!", dizia ela), com o comando da voz de Meghan a subir impecável nos agudos fortes, com um guitarrista "fuzzy" de grande chapéu de vaqueiro branco, que só entrou naquela canção.
Ponto baixo: as US Girls não vieram no formato banda (ao vivo, só mesmo a voz, a dela e a da outra bamboleante rapariga de minissaia vermelha) e não tocaram o melhor tema do seu disco de estreia, "Woman"s work". Em compensação, atiraram flores ao público e depois, muito surrealisticamente, limparam o palco com uma grande vassoura vermelha e saíram.
Já há música no Primavera
As boas vibrações nortenhas dos Sensible Soccers marcaram o início da música no Nos Primavera Sound.
Na relva bem composta do palco Super Bock, beberam-se as primeiras cervejas, fumaram-se os primeiros cigarros dançados e bateram-se as primeiras palmas.
O quarteto de Vila do Conde e São João da Madeira correspondeu com a já esperada viagem pelo Villa Soledade, o último trabalho da banda. Milhares de pessoas no público deram o ambiente ideal ao primeiro de 51 concertos do festival. O Primavera são três dias e o primeiro já começou.