Espetáculo que assinalou os 70 anos do cantor será reproduzido no CCB e na Casa da Música. Álbum que regista o momento é lançado na sexta-feira.
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Foi mais uma data gorda apanhada pela pandemia - os 70 anos de Jorge Palma, assinalados em setembro de 2020 com um concerto no Castelo de São Jorge, em Lisboa, não foram o evento de massas que o cantor merecia, mas apenas um "recital intimista" para cerca de 100 pessoas. Felizmente para o público o momento ficou registado no CD e duplo vinil "70 voltas ao sol", disponíveis a partir de amanhã. E será reproduzido, no seu alinhamento integral que percorre as gemas mais icónicas do criador de "O lado errado da noite", em três espetáculos: Centro Cultural de Belém, em Lisboa, dia 20 de novembro; Casa da Música, no Porto, dia 24; e novamente no CCB, em data extra, dia 16 de dezembro.
Jorge Palma não se queixa das adversidades que impediram um aniversário mais livre - e já nem falamos da liberdade que conheceu em Christiania, a cidade independente fundada na Dinamarca em 1971 e que Palma frequentou antes e depois do 25 Abril, atuando a troco de "rodadas de cerveja e bolos de haxixe", uma "liberdade total, podia andar nu se quisesse" -, porque à experiência da pandemia responde com a citação de um célebre anúncio televisivo: "Não é o Mundo que se adapta a nós, nós é que nos adaptamos ao Mundo". Ajuda já não ter a boémia como prioridade: "Vivo uma vida pacata de bairro, não senti grande mossa. Tive todo o tempo do Mundo. Enchia os dias com noticiários de vários países, li alguma coisa, exercitei a preguiça". Mas foi produtivamente nulo esse período? "Não terei feito tantas coisas como o Vitorino, que se fartou de compor, mas um momento de pousio não significa a suspensão de ideias: há coisas que ficam a marinar".
Novo disco de originais
E a marinar está um novo álbum de originais, com vários temas apenas por "limar e esculpir", que será o sucessor de "Com todo o respeito" (2011). Como habitualmente, compôs à noite: "Quando o sol se põe há menos coisas a interferirem, os telefonemas, as tarefas domésticas. Já escrevi canções durante o dia, mas é à noite que a cabeça fumega".
Até ao lançamento do disco Palma está embrulhado em compromissos, entre os seus concertos e as participações em projetos e espetáculos de outros músicos. Sempre foi assim: há mais de 40 anos que o cantor se envolve em colaborações e experiências, terá havido poucos nomes relevantes neste período que não se tenham cruzado com Palma: "Desde que goste da pessoa e do que ela faz, alinho". E o cantor alinhou com gente tão distante como músicos de orquestra, como nos atuais concertos (ler caixa), ou a banda punk Censurados: "Estou sempre disponível para aprender e para me divertir. Mas, quando decido participar, faço as coisas a sério".
É a sua extensa cultura musical, bem expressa na conversa com o JN, em que discorreu sobre os madrigais de Monteverdi, as origens da ópera na Camerata Fiorentina, os compositores serialistas da Escola de Darmstadt, o folclore irlandês ou Quim Barreiros: "Tudo acaba por ter o seu papel na sociedade: há namoricos que não começavam sem o Quim Barreiros. E eu era capaz de atacar uma música dele, mas talvez a complicasse tanto que até o cheiro do bacalhau mudava (risos). Já fui mais snob e pedante, são coisas que se vão deixando pelo caminho". Talvez porque a música, para Palma, seja como "a força" para Luke Skywalker: está em todo lado.
Convidados
A celebração dos 70 anos de Jorge Palma, realizada discretamente no Castelo de São Jorge, em Lisboa, em 2020, será reproduzida integralmente nos concertos do Centro Cultural de Belém (CCB) e Casa da Música. Tal como há um ano, o cantor será acompanhado por uma orquestra de câmara com 14 elementos dirigida pelo maestro Cesário Costa. Os arranjos foram trabalhados por Filipe Melo e Filipe Raposo e envolvem canções como "Frágil", "Só", "Deixa-me rir", ou "À espera do fim". Em "Estrela do mar" estará também em palco Cristina Branco.