Compositor musicou dez poemas sobre a vida depois da morte, mas a pandemia deixou-o sem dinheiro para lançar o álbum, revelou ao JN.
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"Vozes do além" é o próximo álbum de rock sinfónico de José Cid. O trabalho é composto por 15 temas que exploram a vida depois da morte e a possibilidade de regresso à vida. Apesar de o trabalho estar já terminado, a data do lançamento é incógnita, uma vez que o artista confessou, em entrevista ao JN, não ter a verba necessária para a produção. O autor de "Cai neve em Nova Iorque" responsabiliza os "tubarões dos espetáculos" pela situação em que ele e os outros artistas se encontram atualmente.
"Com o novo coronavírus, os grandes tubarões dos espetáculos, que são apenas dois ou três, fizeram pressão junto do Governo, no sentido de serem cancelados os grandes festivais, para poderem ter uma justificação legal junto das bandas estrangeiras. Isso fez com que os artistas portugueses levassem pela mesma tabela", critica.
Contra o preço de saldo
José Cid, agraciado com um Grammy de Excelência Musical, atribuído pela Academia Latina, assegura que, antes da pandemia, tinha "a agenda completa". Agora, "com o cancelamento dos espetáculos", ficou sem trabalho. "Espero que nos meses de julho, agosto e setembro haja uma certa abertura, concertos sentados e confinados, que me permita editar este álbum", diz.
"Os artistas foram as primeiros a deixar de trabalhar e os últimos a voltar a trabalhar", acrescenta, corroborando a opinião da maioria das pessoas do setor das artes e espetáculos.
Questionado sobre como encara a situação nacional, José Cid entende que "é dramática". E acentua: "Mas é muito mais dramático que alguém faça chantagem com os artistas e tente contratá-los a preços de saldo, para atuarem apenas com voz e piano, quando vão ser distribuídos 30 milhões de euros pelas câmaras", referiu numa alusão ao apoio anunciado pelo primeiro-ministro para as autarquias, a ser distribuído durante o verão.
"Trabalho nos grandes auditórios, não posso passar de cavalo para burro. Ao receberem esta ajuda do Governo, as autarquias têm obrigação de nos contratar com a dignidade que merecemos. Tenho uma equipa de 20 pessoas que me acompanha. Não é só o José Cid. Todos os cantores de primeiro plano deste país têm uma equipa". Sobre a sua experiência pessoal durante o estado de emergência, o compositor explica que ele e mulher, a jornalista Gabriela Carrascalão Cid, optaram por não parar de trabalhar. "Eu, no meu novo álbum; ela, a pintar".
10 poetas falam da morte
"Vozes do além" surge 35 anos depois de "10 000 anos depois entre Vénus e Marte", outro trabalho de rock sinfónico. "É uma obra conceptual, com um lado poético, que aborda a questão da reencarnação", explica.
"Convidei 10 poetas. Cada um deles tem a sua ideia sobre do que é que a vida depois da morte e sobre o que é o regresso à vida depois da morte", salienta. "Entre os poetas convidados, temos Maria Luísa Baptista, Arlindo Costa, de Vila do Conde. Além disso, o álbum tem poemas de Garcia Lorca, Natália Correia e Sophia de Mello Breyner."
Os fãs de José Cid poderão encontrar "Vozes do Além" no mercado das lojas e no Facebook . "Não quero ter as multinacionais a orientarem o meu trabalho. Elas apostam nas plataformas digitais. O álbum será um duplo vinil, um CD e uma Pen. Ainda há quem goste de ter os seus CD. Assim sabemos exatamente o que é que o álbum vende."
Em 1978, o álbum "10 000 anos depois entre Vénus e Marte" foi um marco na história do rock progressivo, que viria a obter mais tarde reconhecimento a nível internacional, sendo incluído na lista de 100 melhores álbuns de rock progressivo do mundo, da revista americana "Billboard".