Em 1932, o JN tinha uma rubrica semanal dedicada ao público infantil intitulada "Para os pequeninos". Na rubrica existiam exercícios de escrita, como por exemplo palavras começadas pela sílaba "per" , anedotas que envolviam temáticas como fazer os trabalhos de casa apresentando problemas matemáticos em pastelarias, e também caricatos "anúncios e reclames", enviados pelos leitores.
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Reza a história que seriam crianças a enviar estes anúncios. Num deles, um leitor reclama ter perdido umas calças, com umas cuecas dentro, na cidade do Porto, no percurso entre a "Rua de Cedofeita até ao Bolhão", e pede a quem as encontrar que ponha os ditos pertences dentro de um envelope com as iniciais "D.O.I.D.O", para as devolver.
O suplemento continha também poesias pueris como a publicada em agosto de 1932: "Na areia quase branca/ Da beira-mar./ Numa alegria franca,/ Anda a brincar/ Um grupo de petizes/ Muito felizes". Além das poesias existiam também letras de canções para os pequeninos cantarem. Isto no ano em que António Oliveira Salazar subiu ao poder presidente do Conselho, dando início a uma governação de 41 anos.
Além destas rubricas fixas, existiam desenhos para os mais novos. A 27 de agosto de 1932 começou a colaborar com o "Jornal de Notícias" o mestre Júlio Resende, que assinava os seus desenhos como "Juca" ou "Júlio Dias". Resende, autor entre outros do painel "Ribeira Negra", que se viria a tornar um dos maiores vultos da cultura portuguesa, estava à época a dois meses de cumprir 15 anos. No primeiro desenho publicado, dois homens frente a frente, um com uma pistola na mão apontada a outro, com os braços ao alto. Na legenda escreveu: "O Bandido - Nem um passo atrás".
Júlio Resende viria a diplomar-se em Pintura, treze anos depois, em 1945, pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto, onde foi discípulo de Dórdio Gomes. A sua primeira participação foi em 1944, na I Exposição dos Independentes. Quatro anos depois, Júlio Resende partiu para Paris, recebendo formação de Duco de la Haix e de Otto Friez. O fruto dessa permanência no exterior seria exposto em Portugal em 1949. Pintor de transição entre o figurativo e o abstrato, Júlio Resende destacou-se como professor, trazendo à escola do Porto um novo espírito aos alunos que a frequentaram na década de 1960. O pintor faleceu em setembro de 2011, aos 93 anos. A faceta desconhecida de histórias aos quadradinhos na Imprensa fez parte do seu percurso durante duas décadas.