A sexta-feira de 13 de maio de 2011 não foi um dia aziago para a literatura, muito menos para a poesia. Anunciado na véspera, o Prémio Camões desse ano contemplou Manuel António Pina (MAP), escritor cuja longa obra foi escolhida por unanimidade pelos membros do júri do mais importante prémio literário de língua portuguesa.
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Do impacto da escolha deu largo eco o "Jornal de Notícias" na edição de 13 de maio, numa espécie de milagre não inferior ao das bem conhecidas aparições religiosas, dada a quase invisibilidade mediática habitual do género poético.
Mais do que a ligação de décadas a fio a este matutino - primeiro como jornalista e mais tarde enquanto cronista, sobretudo através da marcante rubrica "Por outras palavras" -, foi o reconhecimento da valia e do alcance dos seus livros que esteve na origem do amplo destaque noticioso conferido ao acontecimento.
"Foi a coisa mais inesperada que poderia esperar", reagiu à imprensa o laureado, ainda tomado pela surpresa. Poucas horas depois do anúncio, numa entrevista exclusiva ao JN, o autor do seminal "Ainda não é o fim nem o princípio do mundo. Calma, é apenas um pouco tarde" confessaria que "onde sinto o meu sangue é na poesia", título que seria escolhido para a primeira página.
Na peça principal sobre o Prémio Camões 2011 foi relembrado o caráter plural da obra literária de MAP - que, sem se desviar nunca da poesia, também confluiu para o teatro e livros para a infância - e o reconhecimento crescente obtido. Só nesse ano de 2011, foram três as homenagens de que Pina foi alvo, às quais reagiu "com o desconforto e a gratidão de sempre", sem deixar de considerar, todavia, que, afinal, "tudo termina na campa rasa do esquecimento".
Com o galardão, podia ainda ler-se na notícia, além do valor pecuniário de 100 mil euros, o poeta teria finalmente a oportunidade de ver os seus livros finalmente publicados no Brasil.
Na cobertura do prémio, houve espaço para ouvir muitos dos que eram mais próximos do escritor nascido no Sabugal em 1943. Num artigo assumidamente emotivo, o seu amigo Álvaro Magalhães defendia a justeza do prémio, em função da "humilde grandeza" da obra poética de MAP. "O melhor deste prémio é tornar a sua obra mais visível e divulgada, passando de "uma pequena igreja de leitores", como ele diz, para uma imensa catedral, pois ela aguarda ainda os olhos que a verão por inteiro, e com olhos de ver", sustentava o escritor.