A juventude compareceu em peso ao segundo dia do MEO Kalorama para ver Artic Monkeys. Esgotaram os bilhetes diários e também os passes de três dias. Mais de 40 mil pessoas no recinto. E cedo se começou a notar que o espaço ia ser um bem precioso.
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As portas ainda não tinham aberto há uma hora e já várias centenas de jovens corpos se amontoavam junto às grades para marcar lugar. Antes dos Artic Monkeys subirem ao palco, os festivaleiros sentiram de perto, bem de perto, o amor e o Rock&Roll do The Legendary Tigerman. Pelo meio, o indie-ska dos The Lathum e, no palco Futura, a angústia feminina e rebelde dos jovens Crawlers. No palco Colina, ouviu-se a voz envolvente de Róisín Murphy que continua em excelente forma. Os Artic Mokeys ainda estavam longe. Mas ao início da noite, já o recinto começava a parecer pequeno para tanta gente.
Antes, Paulo Furtado, o Legendary Tiger Man, acabou o concerto aos pinchos no meio do público a gritar Rock&Roll. Não havia necessidade de anunciar que ali estava um rockeiro. O "homem-tigre" é da velha guarda, daqueles que percorrem o palco de ponta a ponta e aterram de joelho depois de saltar de cima do bombo da bateria. O rock que toca também é "old school", daquele que nasceu do blues, com saxofone barítono e muito pedal, tarola e prato de choque. Não vai mudar o mundo, mas tem o mérito entreter, promover "o amor" e de pôr as pessoas, pelo menos, a bater o pé.
Já os jovens Crawlers levantaram pés e muito pó no palco Futura. Ainda não lançaram um disco, mas já conseguiram conquistar uma grande legião de jovens fãs, várias delas tão novas que ainda tiveram de vir pela mão das mães. Pelo que se viu, tanto umas como outras apreciaram os sons pesados e cheios de angústia adolescente da banda encabeçada por Holly Minto.
Pouco antes das 22 horas, Róisín Murphy subiu ao palco Colina. A ex-Moloko transferiu-se do trip-hop para terrenos mais jazzísticos de um eletro art pop. Fisicamente continua numa forma invejável com um jogo de pernas impressionante. A voz continua como antes: quente, envolvente e cativante.
Arranque tranquilo até às filas intermináveis
O segundo dia do festival começara tranquilo graças ao "indie-ska" nortenho dos britânicos The Lathums. Foi a sua estreia em solo português, mas ninguém diria. Parecia que estavam a jogar em casa, em Wigan, tal a legião de "lads" de pele branca e escaldada que rapidamente ocuparam os espaços vazios deixados pelas centenas de jovens que, mal abriram as portas, correram a ocuparem as grades.
Durante a tarde era visível que muitos dos presentes não tinham as pulseiras do festival no pulso. Tinham vindo só este dia, só para o rock dos Artic Monkeys. À medida que as horas iam passando via-se cada vez menos relva e cada vez mais pessoas. Quem entrou logo, tinha pela frente sete horas de espera, mais de metade delas ao sol, mas ninguém se parecia importar muito. A malta é nova, espera e resiste.
Esperar e resistir foram duas das palavras do dia. Esperar nas filas e resistir para não desistir. Se no dia anterior já tinha havido alguns constrangimentos, com a enchente de ontem tudo se agravou. Mais e maiores filas. Filas para comer (mais de 30 minutos para uma fatia de pizza! ), filas para beber e filas para as casas de banho. Estas últimas eram tão grandes que levaram muitos a desistir e usar uma rede como urinol. Eles não sabiam as palavas do dia.