Canções de Pongo têm a amplitude do mundo no álbum de estreia "Sakidila".
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Não era expectável, mas foi preciso esperar por 2022 para ver chegar o primeiro álbum de Pongo. Superando as elevadas esperanças já deixadas pelos EP "Baía", de 2019 e "Uwa", de 2020. E a confiança é evidente logo a partir da faixa de abertura, "Hey linda", a meio caminho entre o rigor marcial do kuduro e o hedonismo mais refinado dos afrobeats.
"Sakidila" (palavra que significa "Obrigado" em kimbundu, um dos dialetos de Angola) é também um registo que faz avanços decisivos rumo a uma abertura do espetro sonoro. Longe da azáfama dançável pela qual se tornou conhecida está "Doudou", um suave fim de tarde ao relento com mão de Thomas Broussard na escrita e produção, onde a própria voz de Pongo vem de um recanto distinto do que se lhe conhecia. É uma doçura que se prolonga por "So amor", ligeiramente mais sanguínea; e "Vida", panorâmica, com uma guitarra de onde saem notas douradas. "Kuzola" (Pongo a partilhar decisões com Raphael D"Hervez) é ainda mais fascinante, um lamento de formas difíceis de delimitar: lento mas insinuante, com detritos de gritos (humanos ou nem por isso) a esvoaçar pelo tema, tudo amparado por um lento, hesitante e inconclusivo crescendo (elogios).
A segunda metade do álbum regressa a um domínio rítmico do kuduro (e ao registo vocal familiar de Pongo), mesmo que tingido por múltiplos sabores. "Começa" é triunfal e ameaçadora. "Amaduro", o mais irrecusável convite à dança do registo, faz jus ao título e abraça-se ao amapiano, mesmo que numa versão especialmente musculada. "Goolo" (com um dos dois convidados vocais do disco, Mosty) é pura ascensão e transe - um golaço de levantar o estádio.
Surpreendente é a chegada, perto do final, de uma atualização de "Wegue wegue", a canção dos Buraka Som Sistema que chamou a atenção do mundo para Pongo. Uma atualização subtil q.b., adquirindo mais nuances e partículas de África - e não é nenhum esticão especulativo dizer que "Bruxos" e "Bica bidon" (com Titica, lenda angolana tida como rainha do kuduro) são a sua sequência lógica.
Sakidila
Pongo
Virgin/Universal