Nova rede de livreiros reclama pacote de apoios ao setor e relembra promessas antigas. Espaços procuram sobreviver através das entregas ao domicílio e serviços personalizados.
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Desde que, a 18 de março, o presidente da República decretou o estado de emergência no país, os dias de Helena Girão Santos têm sido vividos a grande velocidade. Apesar das fortes restrições ao funcionamento das livrarias, a a sócia-gerente da Fonte de Letras, em Montemor-o-Novo, não se conformou com a paragem da atividade. E logo tratou de encontrar alternativas. "Decidimos que tínhamos de nos reinventar, pois só assim conseguiríamos sobreviver", afirma.
A solução passou por várias iniciativas em simultâneo, com destaque para a promoção de campanhas nas redes sociais, o envio de livros pelo correio, as entregas ao domicílio e as dedicatórias personalizadas, sem esquecer as vendas no postigo da livraria, forma encontrada para continuar a vender, apesar das portas fechadas ao público.
luta pela sobrevivência
De súbito, os dias de Helena passaram a ser ainda mais preenchidos. As manhãs passaram a ser ocupadas entre idas ao correio e entrega de livros no concelho, enquanto as tardes têm sido ocupadas a atualizar as campanhas, a preparar os embrulhos e a atender os clientes que aguardam pelos livros da parte de fora do estabelecimento.
"Continuamos a encomendar livros às editoras, porque precisam de continuar a atividade", realça.
Com todas estas medidas, a Fonte de Letras chegou ao fim do mês passado com uma descida de apenas 20% quando comparada com idêntico mês do ano passado, uma raridade num meio em que as quebras registadas têm sido quase sempre superiores a metade do volume de negócios.
Na Flâneur, livraria independente no centro do Porto, os esforços de sobrevivência não têm sido menores. O enfoque tem sido a entrega dos livros ao domicílio, cobrindo os concelhos do Porto, Matosinhos e Gaia, mas o envio pelos correios tem sido também constante.
Cátia Monteiro, sócia da livraria, com Arnaldo Vila Pouca, observa que, nas últimas semanas, a par dos clientes de sempre, têm registado encomendas de leitores que querem contribuir para manter a livraria aberta. "Dá para perceber que as pessoas estão cada vez mais atentas e a valorizar os pequenos negócios", diz a livreira.
Apesar dos esforço de que estão a dar mostras, os livreiros independentes sabem que, para sobreviverem a médio e longo prazo, necessitam de outros apoios. Por isso, juntaram-se e criaram uma associação, dispostos a demonstrar que a crónica desunião da classe está longe de ser uma inevitabilidade.
Numa carta aberta dirigida ao poder político, a Reli - Rede de Livrarias Independentes recorda que os sucessivos governos, apesar das promessas, têm ignorado a proteção dos pequenos profissionais do setor. Além de elencarem uma série de medidas de apoio (ler ficha na coluna ao lado), assumem que têm uma causa maior: "Conjugar esforços para levarmos por diante o grande projeto coletivo que é o de dotar o país de uma rede de livrarias especializadas e de proximidade".
MEDIDAS PROPOSTAS
Extensão do apoio
A Rede de Livrarias Independentes (RELI) quer que as pequenas livrarias tenham acesso às linhas de financiamento já anunciadas pelo Governo.
Compras institucionais
Além do reforço dos programas de aquisição de livros e revistas para as bibliotecas públicas, escolares ou municipais, é pedido ainda que os participantes desses concursos não possam apresentar descontos superiores a 10%.
Apoios a rendas
Para evitar despejos nos próximos meses, a RELI reclama apoios governamentais a fundo perdido que possam reforçar a tesouraria das livrarias.
Seguro de salários
Como os funcionários das pequenas livrarias são sobretudo os seus sócios-gerentes, a RELI quer que seja garantido um rendimento mínimo aos profissionais do setor, através de um seguro dos salários.