Projeto que concentra num único site a oferta de uma centena de espaços arranca daqui a seis meses. Resultados positivos noutros países criam alento.
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Nos países onde têm sido lançadas, chamam-lhes "a contraofensiva dos pequenos face à Amazon", tão positiva tem sido a resposta dos leitores às plataformas online que reúnem uma oferta livreira sem paralelo no mercado.
No Brasil, o projeto Estante Virtual ajudou a que muitas livrarias se mantivessem à tona durante a pandemia. Nos Estados Unidos, o Bookshop.org tem sido apresentado como uma alternativa socialmente consciente que permite apoiar os livreiros independentes, em situação de desigualdade perante os concorrentes de maior envergadura.
Em Portugal, a Rede de Livrarias Independentes (RELI) prevê que, no final do primeiro trimestre de 2021, o sistema já esteja operacional. Como serão necessários pelo menos mais dois meses para que cada livreiro possa fazer o upload do seu catálogo na plataforma, as expectativas apontam para o final do primeiro semestre como arranque provável de um serviço que poderá aliviar as dificuldades por que passa o setor livreiro.
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"Quando estiver pronta a funcionar, será, muito provavelmente, a maior base de dados de livros, superior até à da Biblioteca Nacional [BN], com uma oferta de vários milhões de livros", assegura o presidente da RELI, José Pinho, referindo-se à inclusão de títulos que, por não terem ISBN, estão excluídos da BN, mas encontram-se à venda em pequenas livrarias.
A implementação do site está a cargo da Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM), um dos parceiros estatais, a par da Direção-Geral do Livro e das Bibliotecas, associados ao projeto. A construção da plataforma tem o aval do Ministério da Cultura e corresponde a uma das reivindicações dos livreiros expressas nas negociações com a tutela.
Diretor editorial da INCM, Duarte Azinheira qualifica como "importante" a ferramenta desenvolvida, mas sustenta que "ela será o que os livreiros quiserem que ela seja", já que a gestão da plataforma pertence-lhes.
Online cresce, mas...
A pandemia acelerou a transição para o digital também nos livros. Com o confinamento, muitos foram os que se estrearam nas compras online, contribuindo para que o aumento neste segmento atingisse os 30%.
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Todavia, esse crescimento não foi suficiente para mitigar os efeitos da contração do mercado (ler caixa). Sem dados auditados, como acontece com o mercado físico, o peso do digital está ainda por quantificar, mas, segundo vários agentes do setor auscultados pelo JN, deverá rondar os 10%.
Quebra do mercado editorial em 2020 deverá rondar os 20%, prevê a APEL
Nos primeiros 11 meses do ano, o mercado editorial perdeu um quinto do seu volume. Ainda que dezembro esteja por contabilizar, a descida não vai fugir muito destes valores, acredita João Alvim, presidente da Associação Portuguesa dos Editores e Livreiros (APEL). "Houve uma tendência de recuperação nos últimos meses, mas insuficiente para inverter os meses de março a junho, em que as livrarias estiveram fechadas ou quase". Apesar de não se terem registado muitas falências, a associação setorial prevê que a situação possa mudar a breve trecho. "Depois do pico natalício, as vendas nos primeiros meses do ano são muito baixas. Há muitas livrarias que não vão aguentar a falta de liquidez", aponta João Alvim.