Disponível na Netflix desde fevereiro, filme de origem vietnamita é belo e perturbador.
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Mais do que um filme de amor, “Mai” é um filme sobre amor. A obra, do realizador vietnamita Tran Thanh, conta a história de uma mulher e mãe solteira que vive sozinha num apartamento desconchavado num prédio ainda mais desconchavado, na cidade de Ho Chi Min.
Em Mai mergulhamos. Assombrada por um passado por cicatrizar, a personagem que dá o nome à obra está no centro de uma trama comovente e visualmente cativante de busca pela felicidade, por entre complexidades sociais, familiares e de classe. Repleto de romance, drama e uns laivos de comédia, o enredo começa quando Mai, dedicadamente interpretada pela atriz Phuong Anh Dao, acaba por fazer amizade com o mulherengo da vizinhança, Sau, em quem encontra o companheirismo que tanto deseja e evita em simultâneo.
Vivem em frente um ao outro. Ela é pobre, ele é rico a viver como se fosse pobre. Ela é massagista, tem uma filha lésbica, um pai viciado no jogo e é alvo de escrutínio diário. Ele é pianista no restaurante da mãe, com quem tem uma relação que roça a Síndrome de Estocolmo. Ela carrega o enorme peso de ser filha de um homem que lhe roubou demasiado, quando anos antes deu a sua virgindade como pagamento de uma dívida. Ele tenta convencê-la de que é merecedora de felicidade. E embora ambos (mais ele) tentem combater as diferenças, elevando acima delas a vontade de unir caminhos, acabam por ser os contextos familiares a ditar a sua separação, numa trama que surfa uma onda de tragédias inesperadas e às vezes pouco credíveis, com um desfecho comovente.
As falhas do filme - falta naturalidade aos diálogos e a narrativa, com algumas semelhanças com “La La Land”, deixa alguns pontos de interrogação na cabeça - não lhe retiram mérito. Há um cuidado claro na filmagem e na edição, posto a descoberto logo numa das primeiras cenas do filme, uma montagem paralela em que, intercaladamente, Mai limpa o chão do apartamento onde acaba de dar entrada e, na casa em frente, Sau se envolve sexualmente com uma mulher. Além de fazer com que o espectador crie uma relação entre os dois protagonistas que ali se apresentam, a simbiose entre os dois momentos mostra ao que vem durante as restantes duas horas.
"Mai"
Tran Thanh
Netflix