Um espetáculo que é uma busca por identificação num passado de que o bailarino só captou o eco.
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Habib Ben Tanfous recorreu, esta sexta-feira, no Teatro Jordão, ao guião, já estafado, das memórias dos impérios para construir “Here, I bequeath what doesn’t belong to me”. Se, no princípio do espetáculo, o Quasimodo que se arrastou pelo palco, acompanhado por sonoridades com uma tonalidade vagamente árabe, foi uma metáfora interessante para o cruzamento de culturas, o tom lamentatório que se seguiu tornou o solo de Habib Ben Tanfous mais vulgar. O público acabaria por só se excitar com um momento para lá da performance, quando o artista invocou os planos de Trump - outro lugar comum - para a Faixa de Gaza.
Habib Ben Tanfous é bisneto de outro Habib (aquele que é amado), como ele explica à audiência. Não é claro se Habib sabe que herdou do bisavô o nome, mas não a história. Nascido nos arrabaldes de Paris, filho de pais tunisinos, cresceu em Bruxelas, no coração político de uma das regiões mais prósperas e multiculturais do mundo. Estudou em boas escolas (Conservatoire Royal de Bruxelles, Charleroi danse/INSAS/La Cambre) e isso abriu-lhe as portas de uma carreira com que os seus antepassados, em Djerba, nem podiam sonhar.