Manu Chao fez "uma festa" para celebrar a vida com 3500 pessoas nas muralhas de Valença
Os primeiros dos três concertos que Manu Chao tem agendados para este mês de julho em Portugal foi uma “festa” para 3500 pessoas, este sábado à noite, no festival Contrasta, na Fortaleza de Valença.
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O cantor franco-espanhol, de 63 anos, que em setembro lançará “Vive tu”, um novo álbum após um interregno de 17 anos - o último foi “La Radiolina” em 2007 - quis atuar para poucos, mas tomou as muralhas de assalto e só desmobilizou ao fim de cerca de duas horas. Aliás, quem chegou pouco depois da hora do início da atuação, pode mesmo ter tido a sensação de ter chegado no fim, tal o delírio do público desde o primeiro instante e a conexão imediata conseguida pelo cantor franco-espanhol, assim que pisou o palco. O concerto da lenda que vive de "costas voltada para o sistema” foi de celebração da vida, da liberdade e da alegria. E este fartou-se de o agradecer em êxtase, repetindo sem cessar “obrigado Valença, obrigado Valença. Estamos vivos, Valença, estamos vivos”.
Abriu com “Libertad” às 22.15 horas, seguiu com “Todo llegará e “La vida tómbola”, e deixou para depois da meia-noite o lendário “Clandestino”. A atuação correu livre, como se não estivesse alinhada.
Manteve um registo musical festivo de princípio ao fim, numa mistura de pedaços de velhas (e menos velhas) canções, intercaladas com passagens com muitos “eh, eh, eh” e “la, la, la”, que fizeram a assistência dançar, saltar, dançar e pedir mais. “Seguimos, Valença?”, perguntava Manu Chao.
"Manos arriba Valença…que nunca muera la alegria (mãos para cima Valença, que nunca morra a alegria)”, exultou, levando as mãos ao peito e elevando-as, frenético. Uma e outra vez. Repetindo e repetindo, “vamos Valença”.
Pelo meio, também cantou “contra a matança na Palestina” e “Palestina livre”. E voltou a agradecer: “Obrigada Valença pela festa”.
Antes da farra, tocou no mesmo palco o carismático Manel Cruz, que ao terminar disse: ”Quero agradecer ao Manu Chao por existir, especialmente aos pais dele”. O público reagiu e o músico acrescentou: "Os meus [pais] são uns fofos também. Deixo-vos com o grande. Não preciso dizer o nome".
Um “grande” é um artista que recusa grandes palcos, como afirma João Carvalho da produtora Ritmos. “Recusou o festival de Paredes de Coura, o Super Bock Super Rock, o Primavera Sound. [Quer] coisas mais pequenas, mas nunca pensei que viria aqui, porque estamos a falar valor pequenos”, comentou ao JN, acrescentando: “Para fechar contrato, tive de garantir que a bebida era barata, tive de dizer o preço da cerveja, que a taxa que se paga quando se compra o bilhete não era um custo para quem vem ao festival, mas para a empresa, e que o preço do bilhete não passava os 15 euros”. João Carvalho considera que Manu Chao “é um artista peculiar, completamente anti-capitalista”. “Gostava de o ter em Paredes de Coura ou no Primavera, mas ele não quis. É a antítese do que é um artista hoje em dia. Não quis hotel cinco estrelas, quis uma casa na aldeia. Portanto, é um orgulho trazer um artista desta dimensão a Valença, uma estrela mundial que tem 11 milhões de pessoas a ouvi-lo todos os meses no Spotify e que poderia esgotar um estádio”, referiu, concluindo que os 3500 bilhetes, limite imposto pelo próprio artista, para o concerto “esgotaram num dia ou dois”, mas “se tivesse 20 ou 30 mil vendia-os”.
Manu Chao dará mais dois concertos em Portugal em julho: no Agit'Águeda, em Águeda, a 16 (entrada livre) e no Festival do Maio, no Seixal, a 19.