A simplicidade genial de Manuel Cargaleiro contada num documentário na RTP Play
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“Quero que as minhas pinturas façam com que as pessoas descansem e não agridam.” Era o desejo de Manuel Cargaleiro (1927-2024), artista da cor, da luz, da felicidade e da calma, um dos maiores expoentes da pintura portuguesa do século XX que partiu no passado dia 30 de junho aos 97 anos.
Nada substitui o contacto com as suas obras, e deveria ser peregrinação obrigatória no país passar pelo seu museu em Castelo Branco – um mostruário de maravilhas –, mas conhecer o homem, essa “criança grande”, é também um refresco de sanidade. “O fazer de Cargaleiro”, documentário de Ricardo Clara Couto e Luís Filipe Borges disponível na RTP Play, faz-nos entrar no seu Mundo pela porta da intimidade.
É um rosto simpático e rechonchudo que nos acolhe, nos seus ateliers, no museu, nas ruas de Paris onde deambulou durante quase 60 anos, desde 1957. Fala com simplicidade das suas obras: “Devemo-nos inspirar nas cores que as mulheres vestem, porque são as cores certas para cada época.” Apreciar os seus quadros é também simples: “Não é o grau de cultura de uma pessoa que vai determinar a sua sensibilidade para a beleza.” Acima de tudo, divertiu-se: “Às vezes é um divertimento cansativo, mas não consigo parar. O que distingue a minha pintura é que parto de mim sem pensar em mais nada. E sou feliz assim.”
Um dos seus admiradores, Álvaro Siza Vieira, diz que a sua arte reflete a bonomia do seu temperamento e personalidade. O historiador de arte Fernando Baptista Pereira destaca a imbricação entre o trabalho como ceramista – por onde Cargaleiro começou – e como pintor. E o crítico italiano Enzo Biffi Gentilli dá conta da sua dimensão internacional: “É um verdadeiro artista europeu, porque a sua obra torna-se património do país onde é instalada.” Em Paris, na Costa Amalfitana, no Seixal ou em Castelo Branco, Cargaleiro há de ser sempre um mestre.