Marilyn Manson: "Fantasio todos os dias sobre esmagar o crânio dela com uma marreta"
Cantor confessou desejo de matar a atriz Evan Rachel Wood numa entrevista em 2009, quando se separaram brevemente mas ainda namoravam. E escreveu uma canção inteira sobre isso.
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O relacionamento do artista gótico de rock de choque Marilyn Manson, hoje com 52 anos, com a atriz Evan Rachel Wood, 33 - que esta semana o acusou de violação e diversas formas de maus tratos, físicos e psicológicos - começou quando ela era ainda menor e só foi tornado público em 2007, depois dela fazer 19 anos e aparecer no videoclip da canção dele "Heart-shaped glasses". Ele tinha então 38 anos, o dobro da idade dela.
Ao longo do namoro, que terá sido sempre tóxico e vicioso, atravessaram várias separações, incluindo uma em 2008, muito marcante para o cantor de "Putting holes in happiness", que disse ter "sofrido como um cão". Mas reconciliaram-se sempre até 2010, quando no início do ano anunciaram publicamente estar noivos.
O noivado, que pareceu uma fuga para a frente de quem está a olhar fixamente para um precipício, não prosperou e durou apenas sete meses: no outono desse ano separaram-se para sempre.
À luz das graves acusações sobre Manson - são já cinco, incluindo Rachel Wood, as mulheres que esta semana o acusaram de violação; o cantor rebateu-as como "distorções da realidade"; deve seguir-se a acusação formal -, reemerge agora uma entrevista do cantor de "Antichrist superstar" à revista "Spin", em 2009. É aí que Manson se alonga sobre a turbulência desse relacionamento e diz esta frase muito perturbadora: "Fantasio todos os dias sobre esmagar o crânio dela com uma marreta".
Manson também se cortava com lâminas
O cantor, reconhecível por usar maquilhagem muito carregada, olhos de cores diferentes e cortes de cabelo cubistas, explica-se. "Eu debatia-me para lidar com o facto de estar sozinho, de ter sido abandonado e traído e por ter confiado numa pessoa que era a pessoa errada", disse em 2009 Manson, cujo nome verdadeiro é Brian Warner - o seu nome artístico Marilyn Manson é suposto homenagear duas figuras de universos opostos, um anjo e um diabo: a atriz Marilyn Monroe, loira e imaculada, e Charles Manson, o psicopata convicto que tinha uma suástica tatuada na testa e matou Sharon Tate em 1969 (Charles morreu em 2017 na prisão, com 83 anos).
"E esse é um erro com o qual todos se podem identificar, entregarmo-nos a alguém que não nos merece. E depois cometi o erro de tentar, desesperadamente, compreender e ultrapassar assim o assunto da traição", continuou o rocker na entrevista confessional à "Spin".
Logo depois faz outra declaração chocante: "Nesse dia [em que Evan Rachel Wood o deixou] e de cada vez que eu lhe telefonei, e fi-lo 158 vezes num dia, eu pegava numa lâmina de barbear e cortava-me na cara ou nas mãos porque ela não me atendia".
O cantor assumiu depois que a introspeção o fez perceber que a sua automutilação era "uma coisa estúpida de se fazer", mas isso não o impediu de sonhar em matar a namorada - e de verbalizar o tétrico desejo.
"Eu queria mostrar-lhe a dor que ela me estava a fazer passar. Foi como, 'eu quero que tu vejas fisicamente o que tu me fizeste!'. Mas esse dano faz parte de mim", confessou Marilyn Mason, que escreveria depois a célebre canção "I want to kill you like they do in the movies" ("Eu quero matar-te como eles fazem nos filmes").
"É uma música sobre as minhas fantasias. Tenho fantasias todos os dias sobre esmagar o crânio dela com uma marreta", disse na entrevista, que terá provocado a seguir um longo silêncio no entrevistador.
A música em que ele a queria matar como no cinema
O que é, então, a canção "I want to kill you like they do in the movies", editada no álbum "The high end of low", de 2009? Não é exatamente um compêndio sobre formas de extermínio, mas a projeção lúgubre, e trágica, dos desejos sádicos e masoquistas do amor. Simultaneamente, o cantor salta entre os paralelos da realidade e da ficção cinematográfica, assumindo que tudo faz parte da criação.
"Eu estava apenas a atuar, baby", canta ele sob uma chuva cascada de guitarras afiadas, acrescentando depois "não confundas isso com amor, isto é só negócio, não é prazer, baby". E ainda "de cada vez que eu te mato, eu mato-me realmente a mim mesmo".
A canção será, como escreveu na altura a revista "Thrash Hits", "uma coisa que lateja malevolamente como uma veia ingurgitada na testa de um serial killer, com Manson a sibilar repetidamente 'corta, corta, corta!'. É uma canção húmida, macabra na sua opressão, e vai fazer o ouvinte estremecer como num sonho de febre assassina. É magnífica", escreveu o crítico Hugh Platt. A canção dura nove minutos e terá sido gravada num só take logo à primeira vez, num jorro lascivo delirante.
"Magoava-me a mim mesma para o desarmar"
Evan Rachel Wood despontou na TV em 1995 na série de terror ""American gothic", deu o salto definitivo para a fama como a rainha vampira do Louisiana em "Sangue fresco/True blood" (2009 a 2011) e depois afirmou-se como estrela no seriado de ficção científica "Westworld" (2016 a 2000), onde interpreta Dolores, um andróide senciente, isto é, capaz de ter sensações ou sentir impressões humanas como amor, pena e choro. Pelo meio, já a vimos em papéis marcantes, como a filha do "Wrestler" Mickey Rourke, no filme de Darren Aronofsky, de 2008; como a doce Iduna na animação da Disney "Frozen 2: O reino do gelo" (2019); ou como a filha dos pais criminosos Richard Jenkins e Debra Winger, no drama "Kajillionaire" (2020).
Do seu namoro altamente tóxico com Marilyn Manson, a atriz falou pela primeira vez de "relacionamento abusivo" há cinco anos, durante audiências que decorreram no Congresso dos EUA - mas na altura recusou revelar o nome do seu agressor.
Em 2019, já noutro prisma sentimental, fez uma revelação surpreendente e partilhou fotos terríveis que mostravam cicatrizes de feridas autoinfligidas. A atriz explicou então que se magoava a si mesma para "desarmar" o seu ofensor.
"Dois anos depois de ter começado o meu relacionamento abusivo, recorri à automutilação. Quando o meu agressor me ameaçava ou me atacava, eu cortava-me nos pulsos como forma de o desarmar", explicou a atriz na altura. "Isso só fez os abusos diminuírem de intensidade ou pararem temporariamente. Naquela altura eu estava desesperada para conseguir acabar com as agressões e estava com muito medo de sair de casa", escreveu a atriz no Instagram, colocando de seguida no texto a hashtag #IAmNotOk ("eu não estou bem").
Esta semana, na manhã de segunda-feira, Evan Rachel Wood expôs tudo e detalhou o suposto comportamento horroroso de Marilyn Manson num post no Instagram, partilhando depois as acusações de outras mulheres.
"Ele começou a cortejar-me quando eu era ainda adolescente e abusou horrivelmente de mim durante anos seguidos", escreveu a atriz nomeada para um Globo de Ouro por "Mildred Pierce" (2011). "Eu fui submetida a uma lavagem cerebral e fui manipulada até à submissão. Cansei-me de viver com medo de retaliações, calúnias ou chantagens. E estou aqui para expor este homem perigoso e convocar as muitas indústrias que o capacitaram, antes que ele arruine ainda mais vidas. Estou ao lado das muitas vítimas que não ficarão caladas", prometeu.
Manson reage: "São distorções da realidade"
Marilyn Manson reagiu, com um comunicado no Instagram, no dia seguinte à exposição pública do seu nome. E não admite os crimes.
"Obviamente, a minha arte e a minha vida foram sempre ímanes de muita controvérsia, mas estas recentes acusações são distorções da realidade", escreveu. "As minhas relações íntimas têm sido sempre inteiramente consensuais com parceiros de mentes semelhantes. Independentemente do como - e do porquê - estão agora a escolher mal-interpretar o passado, essa é a verdade", diz no mesmo post.
Entretanto, o autor do disco "We are chaos", lançado em 2020, já está a sofrer outras represálias, agora da indústria do entretenimento: foi eliminado da série de TV "American gods", onde interpretava o papel de vocalista da banda de metal Blood Death; foi retirado da 2.ª temporada da série de terror "Creepshow"; e a sua editora discográfica Loma Vista anunciou que "à luz destas alegações perturbadoras, vamos deixar de promover o seu álbum, com efeito imediato", garantindo que não voltará a trabalhar com o músico.
Ainda não há acusações judiciais formais contra Marilyn Manson.