Humorista anda na estrada com o seu primeiro espetáculo a solo: o “Menino de Ouro” passa esta quinta-feira pelo Teatro Sá da Bandeira, no Porto.
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O solo chama-se “Menino de Ouro” porque sempre foi assim tratado – pelo família, colegas, amigos, “desde o jardim de infância”. Diz que é o tipo de pessoa que se dá bem com toda a gente, muito por “culpa” do humor, que cedo aprendeu a abraçar. Depois de anos a percorrer o país e a afiar o seu humor em bares de comédia, festivais e tours com Gilmário Vemba e Hugo Sousa, Mário Falcão estreia-se com o primeiro espetáculo a solo: "Menino de Ouro".
Lisboa e Porto são as cidades que vão receber o humorista: esta quinta-feira, no Teatro Sá da Bandeira (Estúdio Latino) e em Lisboa, que, depois de esgotar a primeira data (23 de abril) no Villaret, tem reprise a 30 de maio.
Ao JN, o humorista de Massamá explica como os seus espetáculos incluem interações com o público e como os temas, que mergulham nas aventuras e desventuras do crescimento, desde a infância nos anos 90 à tarefa de ser adulto, entre “memórias de uma família disfuncional e reflexões hilariantes sobre o mundo atual”, se inspiram sumariamente “na sociedade e na vida em si”.
Como entrou o humor na sua vida? Sempre gostou de fazer rir?
Sempre gostei de fazer rir, entre o grupo de amigos, na escola, em convívios… já durante os jantares de família, em pequeno, chateava toda gente a contar anedotas.
Muitos confessam que começaram por usar o humor como uma defesa. Foi o seu caso?
Acabou por ser pela sensação de fazer rir, mas essa acaba por ser uma forma de auto-aprovação, também. E era também a minha tática para falar com raparigas, desde novo (risos).
Rir é mesmo o melhor remédio? Mesmo quando tanto falha e com culturas de cancelamento e afins?
Rir acaba por sempre o melhor remédio. Mesmo quando a sociedade falha, ou outro motivo qualquer do nosso quotidiano, rir é a melhor forma de encararmos a vida. A cultura de cancelamento sinto que em Portugal não existe assim tanto e felizmente somos um país com bastante liberdade de expressão.
Mas pode o humor abrir perspetivas, mudar mentalidades?
A primeira mensagem do humor é sempre o divertimento, o rir, mas sim, muitos comediantes tentam cada vez mais passar uma mensagem, nem que seja para ver algo de outro ângulo, ou algo que está errado.
No seu percurso, de Massamá para os primeiros palcos, como foram as primeiras experiências?
As primeiras vezes em palco foram muito marcantes, desde os nervos que se sente, à ansiedade sobre o texto que se escreveu, o medo de dececionar alguém próximo, no público… é como fazer bungee jumping mas sem o elástico. A primeira vez que subi a um palco tinha 28 anos, e tinha muita gente amiga a ver, o que acaba sempre por dar uma almofada de conforto mas ao mesmo tempo uma pressão de falhar. A partir daí foi um percurso de open Mics, em Lisboa e Porto, até começar a ser regular em várias casas.
Estreia-se num espetáculo próprio, e já com datas esgotadas. Como explica esta adesão?
O esgotar tão rápido foi de facto surpreendente. Acho que se deve a estar muito presente nas redes sociais, através de reels e tiktoks com bits feitos por mim, o facto de já ter estado em variados festivais… Mas diria que o facto de ter feito aberturas de espetáculos de nomes grandes como o Hugo Sousa e o Gilmário Vemba, e também ser residente e assíduo nos melhores comedy club do país, terá ajudado.
Porquê “Menino de Ouro”?
Porque toda a minha vida fui sempre tratado como o menino de ouro, fosse no jardim de infância, escola, família, no bairro, até universidade. Ainda que muitas vezes fosse malandro e fizesse coisas que não devia, acabava sempre por me safar, porque era o “o menino de ouro”, que se dava bem com toda gente.
Ainda fica nervoso antes dos espetáculos? Porque o stand-up é meio sem rede?
Nervoso, nervoso, não – talvez vá ficar agora durante os solos por serem datas só minhas e ser algo que nunca fiz; no entanto estou muito confiante e com muita vontade de fazer rir. Sinto é sempre a ansiedade, a vontade de ir para o palco. Porque desde muito novo que via programas de stand up, como o “Lavanta-te e ri”, e sempre achei que o stand up incluía uma crítica a algo, era diferente das outras artes e isso cativou-me. Inicialmente é sem rede sim, mas ao fim de uns anos acaba por aparecer essa rede, devido à experiência e horas de palco.
Num espetáculo como este, quanto é do momento e quanto é preparado?
Muito do meu stand up tem partes que são do momento, como momentos de crowd work ou seja interação com o público, e para mim isso é umas das partes mais engraçadas. No entanto num espetáculo como um solo é tudo preparado, mas claro que vai ter alguns momentos feitos na hora – o mais fácil é irem assistir!
Onde se inspira ao escrever?
Em histórias que vivo, no que se está a passar na sociedade. Uma das maiores inspirações para os meus textos acaba por ser a minha família, que apesar de disfuncional acaba por ter o seu lado cómico. Mas diria que, em geral, acabo por me inspirar pela vida em si.