Escritor peruano expõe a sua visão da arte e do mundo no livro "Conversas em Princeton".
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Por nunca ter tido pejo de expressar a sua opinião de forma livre e não raras vezes desassombrada, Mario Vargas Llosa pertence àquela estirpe de escritores cujo interesse não se esgota nas páginas dos seus livros. Claro que, em última instância, o autor peruano será, acima de tudo, lembrado no futuro pela escrita das suas obras essenciais ("Conversas na catedral", "A festa do chibo" ou "A tia Júlia e o escrevedor", entre outras), mas lê-lo ou ouvi-lo dissertar de forma estimulante sobre os desafios do nosso tempo ou como estruturou determinado romance é uma fonte de contínuo interesse.
O mais recente livro em que participa, resultado das longas conversas que manteve com o seu amigo mexicano Ruben Gallo na Universidade de Princeton, prolonga e acentua essa imagem de tribuno e comunicador nato.
Desafiado por um conjunto de alunos do histórico estabelecimento de ensino americano, onde permaneceu ao longo de um semestre inteiro em 2015, Llosa partilhou a sua visão aberta das coisas, seja sobre o mundo de hoje ou o seu próprio ofício.
Acerca deste último, por exemplo, rejeita com vigor a teoria de que a literatura deve, antes de mais, entreter quem lê, propondo, ao invés, a missão ampla de formar e consciencializar os leitores, com o propósito superior de despertar o sentido crítico.
A importância que um simples romance pode assumir na transformação de um indivíduo é realçada com brilhantismo pelo autor de "A casa verde" numa das suas preleções, em que defende que um leitor não fica o mesmo depois de ser confrontado com as novas visões, experiências e estados de alma descritos num livro.
Um dos derradeiros sobreviventes do intelectual empenhado com as causas do seu tempo, o Prémio Nobel da Literatura 2010 opina também sobre a ameaça terrorista para concluir que a única defesa possível contra a barbárie pretendida pelos fanáticos é a defesa intransigente da liberdade de expressão.
Num extraordinário diálogo mantido com o jornalista Philippe Lançon, um dos poucos colaboradores do semanário satírico "Charlie Hebdo" que escapou ao morticínio do atentado, Vargas Llosa defende que "a censura é o começo de qualquer ditadura, de qualquer tipo de regime totalitário, porque provoca o desaparecimento do espírito crítico".
Conversas em Princeton
Mario Vargas Llosa
Quetzal