Faixa entre os 18 e os 30 anos foi a que mais contribuiu para subida de 16%. Dia do Livro Português é celebrado este fim de semana.
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Os autores estrangeiros continuam em maioria nas obras vendidas, mas no fim de semana em que se celebra o Dia do Livro Português - data instituída pela Sociedade Portuguesa de Autores com o objetivo de destacar a importância da língua portuguesa no mundo - há dados encorajadores.
Se já se sabia que o mercado tinha crescido 16% em 2022, ultrapassando assim os números anteriores à pandemia, uma análise detalhada dos dados da auditora GfK permite concluir que o segmento que mais contribuiu para essa subida foi o da faixa etária entre os 18 e os 30 anos, alavancando as vendas de géneros como a BD japonesa, fenómenos do Tik Tok ou de autoras como Colleen Hoover.
"É uma base ainda frágil, mas que apresenta números muito razoáveis", afirma Pedro Sobral, presidente da Associação Portuguesa dos Editores e Livreiros (APEL).
Para uma aproximação efetiva dos jovens à literatura, o dirigente defende uma revisão dos planos curriculares. "Temos excelentes escritores novos que deveriam estar mais representados nos programas. É preciso um rejuvenescimento", declara, elogiando "o diálogo permanente" com o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, ao contrário da antecessora, Graça Fonseca. Uma das medidas em equação, ao abrigo dessa nova relação, é a criação de um cheque-livro dirigido a jovens.
O peso da literatura estrangeira em Portugal não invalida a existência de editoras com catálogos 100% nacionais ou próximos disso.
É o caso da vimaranense Opera Omnia, especializada nos clássicos da literatura, cujo editor, José Manuel R. Costa, reconhece "as dificuldades muitíssimo desafiadoras" que uma editora independente com esse perfil enfrenta. Além dos "recursos limitados", aponta "a crescente necessidade de publicitação", mas também "o desinteresse". "Temo que o livro comece a não ter alma e que o sentimento da necessidade de conservação de uma biodiversidade fecundíssima tenda a desaparecer", lamenta.
Com um naipe alargado de autores nacionais no catálogo, a açoriana Companhia das Ilhas vê na divulgação da literatura portuguesa "uma autêntica missão", mas a que não faltam dificuldades. "As livrarias e os leitores são cada vez menos", diz Carlos Alberto Machado, que qualifica de "verdadeira desgraça" os apoios oficiais.
Sediada em Santo Tirso, a Idioteque, do escritor Manuel Andrade, acrescenta um motivo para a aposta nacional: o fator económico, devido à ausência de custos relacionados com a tradução e pagamento de direitos internacionais. Ainda assim, lamenta que se tenha perdido "o gosto pela descoberta de autores", em parte pela ausência de apoios. "Deveria haver uma política de incentivo ao primeiro livro do autor", advoga.