Angry Blackmen foi o grande nome da noite de encerramento do Mucho Flow, num concerto-comício que converteu os mais céticos. Snow Strippers chamou a sua base de fãs electropop e Toccororo proporcionou um fecho apoteótico de clubbing numa edição consistente do festival indie de Guimarães.
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Entraram sorrateiros no palco. Estávamos ainda a apercebermo-nos da sua chegada e, ainda com os braços a caminho das palmas de boas-vindas, Quentin Branch ergue o microfone e começa a profecia. Foi a capella que o elemento do duo Angry Blackmen se apresentou. E que apresentação.
Como nunca antes, durante cerca de uma hora, o Mucho Flow 2024 foi transportado para um autêntico espetáculo de rap - no qual a palavra foi, verdadeiramente, ouro. Tanto Branch como o seu colega, Brian Warren, entregam uma lírica preocupada com a forma, com a dicção, com o conteúdo, com o espetáculo, com o público que efervescia.
Política no ponto
Houve ainda mais dois momentos a capella no entretanto, um deles um improviso cara a cara com um fã na primeira fila. O grupo de Chicago, criado em 2017, agarrou a audiência logo no arranque e eles mesmo confirmaram: “Vocês estão a ser incríveis”.
Muito poucos deveriam conhecer as letras - quase sempre ácidas e, sobretudo, políticas -, mas não foi o desconhecimento que impediu que nos imbuíssemos naquela energia “raivosa” de Quentin e Brian, naquele que foi um dos melhores concertos desta edição do Mucho Flow (a par com Mabe Fratti e o seu violoncelo eletrificado, no dia anterior) - ou até mesmo das nossas vidas recentes. A "garagem" do Teatro Jordão que os acolheu ferveu do princípio ao fim neste tumultuoso concerto-comício de rap.
A electropop dos Snow Strippers
O último dia do festival indie vimaranense esteve ainda entregue ao duo electropop Snow Strippers, de Detroit, que moveram a sua base de fãs - reconhecível pelos conjuntos de roupa minimal que usavam a combinar com a vocalista, Tatiana Schwaninger - e piscaram o olho aos adeptos de EDM que têm saudades dos Chvrches ou dos Crystal Castles.
No palco do Centro Cultural Vila Flor, o espetáculo de energia digital, sons estridentes de videojogos que eclodiam entre baixos profundos e trémulos, explosões súbitas de luz e varrimentos de laser sobre a cabeça dos espectadores, esteve entregue e direcionado para o entusiasmo desses devotos fãs, maioritariamente adolescentes, deixando o restante público mais contemplativamente curioso do que propriamente entusiasmado com o que via.
Já Toccororo, projeto da hispânica Claudia Fersanch, que atuou na pista veludínea do Teatro São Mamede, foi, como esperado, o destaque de final da noite - e do festival -, tendo rematado com uma energia contagiante e que convenceu todos os corpos presentes a dançar nesta noite fértil de clubbing, com os seus sons ecléticos de música latina eletrónica.

