Comunidade artística dividida com o boicote cultural a Israel. Missiva com apelo também já tinha sido enviada a Conan Osíris por Roger Waters
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A fadista Mariza protagoniza terça-feira, às 18 horas (20 horas locais) um concerto no Auditório Charles Bronfman, em Telavive, Israel. Um espetáculo que acontece depois de organizações nacionais e internacionais lhe terem solicitado que não o fizesse.
"O que lhe pedimos, pois, é que não ignore as vozes que lhe chegam e que cancele o concerto previsto para Israel e se junte a todos os que rejeitam o apartheid do Estado israelita e a todos os que defendem uma solução justa e pacífica para o povo palestino, nomeadamente o seu direito, igual ao de todos os povos, a ter o seu Estado próprio, viável e soberano, com Jerusalém Leste como capital, conforme as resoluções das Nações Unidas." Assim escreveu o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM).
Contactado pelo JN, Vítor Pinto, porta-voz do MPPM, disse não ter recebido "qualquer reposta da artista, embora a carta, além da divulgação pública, tenha sido enviada ao seu agente". Em resposta ao JN, a assessoria de Mariza disse que a artista "não fará declarações" sobre o tema.
A associação israelita Boycott! também fez um apelo público à cantora portuguesa para lhe explicar as razões do pedido. "Você pode-se estar a perguntar o que isto tem a ver com o seu espetáculo. O governo israelita, incluindo o município de Telavive, está a usar apresentações de artistas internacionais para rechaçar as críticas às horríveis violações de direitos humanos e leis internacionais por parte de Israel. Concertos como o seu são cooptados por Israel e usados como distração desses crimes", pode ler-se na carta.
O movimento internacional BDS (boicote, desinvestimento e sanções) conta com artistas como Elvis Costello, Lauryn Hill, Faithless, U2, Björk, Jean-Luc Godard, Snoop Dogg, Cat Power e Vanessa Paradis. Todos eles recusaram apresentações em Israel ao longo dos últimos 15 anos. Apesar de quantias avultadas propostas pelo Governo israelita para contornar o boicote cultural, os promotores locais reclamam que é cada vez mais difícil atrair artistas famosos. O movimento estabelece um paralelismo com a África do Sul, onde "justamente por isso, um boicote cultural institucional foi lançado há décadas contra o apartheid. Esta campanha ajudou a trazer liberdade a milhões de pessoas. Além disso, artistas que se recusaram atravessar a linha e apresentar-se na África do Sul foram reconhecidos pela História como os principais contribuintes na luta por um mundo justo", argumenta o BDS.
Atuar não é apoiar
O movimento divide a comunidade artística. Seiscentos artistas, entre eles Roger Waters, Patti Smith ou Rage Against the Machine, lançaram uma carta aberta a pedir aos artistas um boicote cultural a Israel até ao nascimento de uma "Palestina livre". Apelo também dirigida ao português Conan Osiris, a quem foi pedido que não atuasse no Festival da Eurovisão. Osiris ignorou o pedido e atuou.
Outros artistas houve, como Nick Cave e Thom Yorke, dos Radiohead, que se opuseram ao boicote cultural, explicando que não aceitavam que a sua decisão de tocar em Israel representasse "algum tipo de apoio tácito às políticas do Governo". v