Australianos levam a medalha de prata da primeira noite do festival, porque o ouro estaria sempre reservado para Nick Cave. Mura Masa e Cigarettes After Sex trouxeram propostas diametralmente opostas. Primavera segue hoje em frente com Beck, Pavement ou Slowdive
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Depois da intensidade do concerto de Nick Cave and the Bad Seeds, a que só faltou a chuva para se elevar à dimensão quase sobrenatural do espetáculo de 2018, realizado no mesmo local, abriram-se duas possibilidades ao público: ou a descompressão - e para isso lá estava Mura Masa, com a sua festa descontrolada de nu-disco onde cabem sons de vídeojogos, guitarras sintéticas e samples da mais obscura e bizarra proveniência, um "show" alucinado a pedir a constante participação do público; ou a pausa para meditar oferecida pelos Cigarettes After Sex, que na sua plangência e introspeção, acompanhadas por imagens de neve a cair ou de luas cheias a tombar sobre o oceano, arrancavam ao público as suas emoções mais viscerais, deixando-o próximo de alguma choraminguice.
Nenhuma das receitas parecia a ideal, cabendo aos Tame Impala, um pouco mais tarde, encontrar a síntese perfeita para lidar com a influência de Cave na primeira noite do NOS Primavera Sound. Figuras de proa no revivalismo psicadélico, os australianos liderados por Kevin Parker trouxeram a festa elegante e a meditação extrovertida, juntando as dimensões que estavam separadas nos concertos de Mura Masa e Cigarettes After Sex. Apresentaram boa parte do último álbum, "Slow rush", e revisitaram hits de "Currents" ou "Innerspeaker". Encheram o ecrã ao fundo do palco de cores vibrantes e formas em liquefação e distorção. Não pouparam em lasers e efeitos luminosos. Serviram o seu psicadelismo legível e dançável. Foram planantes, contundentes, espaciais. Uma hábil mistura de velocidades e temperaturas que ofereceu ao público, em cada momento, a dose certa de vibração. Ninguém saiu exausto, ninguém ressonou. A banda de Perth assume-se hoje como uma das mais sólidas e estimulantes propostas do universo da pop.
Algo abafadas pelos concertos principais da primeira noite, que monopolizaram o público nesses horários, as atuações de Sky Ferreira, Caroline Polachek, Black Midi ou Jhay Cortez serão narradas pelos seus mais fiéis seguidores.