O número de jornalistas presos em todo o mundo por exercerem a sua profissão aumentou pelo terceiro ano consecutivo, chegando aos 251, a maioria na Turquia, anunciou o Comité para a Proteção dos Jornalistas.
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Este é um número recorde desde que existe registo por parte do Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), organização sem fins lucrativos baseada em Nova Iorque, que destacou que um mundo com centenas de jornalistas em prisão se converteu numa "nova normalidade".
A Turquia, com 68 jornalistas encarcerados, é o país que lidera a classificação, seguido pela China com 47, o Egito com 25 e a Arábia Saudita com 16.
A Eritreia situa-se no quinto lugar, também com 16 jornalistas em prisão, ainda que o CPJ tenha alertado que se desconhece se os jornalistas, na sua maioria detidos desde 2001, continuam vivos.
Outros países que completam a lista são o Vietname, com 11 jornalistas presos, e outros sete nos Camarões.
Cerca de 70% dos jornalistas que se encontram em prisão em todo o mundo são acusados de delitos contra o Estado.
Na Turquia, por exemplo, a maioria é acusada de manter ligações com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Também se destaca o aumento de jornalistas detidos por divulgar "notícias falsas", que em dois anos passaram de nove para 28. A maioria dos jornalistas acusados deste crime, 19 no total, encontra-se em prisões no Egito.
O CPJ relembrou em comunicado que este aumento ocorre em paralelo com a intensificada retórica global sobre as notícias falsas que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lidera.
Para além disso, são cerca de 18% os jornalistas detidos por razões desconhecidas.
Na lista de países do continente americano constam a Venezuela, com três encarcerados, e o Brasil, com um jornalista prisioneiro.
Nos Estados Unidos, "onde os jornalistas são confrontados com uma retórica hostil e com violência física", não há profissionais em prisão, mas destacam-se nove detenções ao longo do ano.
O comunicado também revela que há, na Europa, um jornalista russo em prisão na Ucrânia e um ucraniano numa prisão na Rússia.
Com estes dados, o CPJ conclui que a "abordagem autoritária" às coberturas jornalísticas críticas converteu-se em algo mais do que um simples aumento temporário e que um mundo com centenas de jornalistas presos é "a nova normalidade".
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A revista "Time" escolheu, na sua última publicação, um grupo de jornalistas para a Figura do Ano a que chama de "os guardiões", que foram presos ou assassinados durante 2018, pela sua "luta pela verdade".
Foram nomeados, entre outros, Jamal Khashoggi, o jornalista saudita assassinado na embaixada da Arábia Saudita na Turquia, em outubro passado, ou ainda quatro jornalistas do jornal Capital Gazette que foram mortos a tiro num massacre na capital do estado de Maryland, nos EUA, em julho passado, por um homem que tinha processado a publicação e perdido o caso em tribunal.
Dois jornalistas da agência Reuters entram na lista, Wa Lone e Kyaw Soe Oo, condenados a sete anos de prisão, em setembro, acusados de terem revelado segredos de Estado, no decurso de uma investigação sobre massacres de muçulmanos rohingya.
A lista termina com Maria Ressa, jornalista filipina cujo site (Rappler) foi processado por difamação pelo governo das Filipinas, após uma investigação sobre corrupção.