Atentados, ocorridos há 20 anos, deram origem a um número quase interminável de criações. Processo artístico sofreu alterações.
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Nas muitas reações públicas aos atentados do 11 de setembro, houve uma que causou particular celeuma. Ao qualificar o derrube das Torres Gémeas de "obra de arte", o compositor alemão Karlheinz Stockhausen suscitou um coro unânime de críticas que o obrigou a retratar-se publicamente.
À distância de duas décadas, não restam dúvidas de que Stockhausen foi premonitório, ainda que por caminhos ínvios.
Ao associar a componente artística ao maior ataque em solo americano desde Pearl Harbor, o controverso compositor antecipou apenas a estreita relação entre ambos. Com efeito, nenhum outro tema foi tão glosado em todo o século XXI como os funestos ataques às Torres Gémeas e ao Capitólio.
Passado o aturdimento inicial, as artes não tardaram a explorar o filão. O cinema foi dos primeiros a aperceber-se do potencial dramático. Provavelmente o primeiro esforço concertado para compreendermos melhor o sucedido, "11.09.01" é um filme dividido em 11 partes, cada qual com nove minutos e 11 segundos, em que realizadores como Claude Lelouch e Sean Penn interpretam a tragédia à sua maneira.
Essa diversidade é uma constante nos filmes que se seguiram. Se é certo que o heroísmo dos envolvidos domina muitas das histórias (como "World Trade Center", de Oliver Stone, ou "O voo 93", de Paul Greengrass), há exemplos em que a veia crítica é elevada ao extremo (como os documentários de Michael Moore) ou se deteta uma procura de respostas fora das fronteiras ("00.30 Hora negra", de Kathryn Bigelow).
a morte do artista
A abordagem literária foi menos imediata, mas não menos eficaz. Três dos mais consagrados autores do nosso tempo, herdeiros dos grandes romancistas americanos, recorreram à ficção para explicar uma realidade de contornos quase irreais: John Updike ("O terrorista"), Don DeLillo ("Homem em queda") e Philip Roth ("Todo-o-Mundo"). Mas pertenceu a um escritor de outras paragens a obra literária mais aclamada ("The Guardian" considera-o o livro da década). Em "O fundamentalista relutante", o paquistanês Mohsin Hamid explora o processo de radicalização de um pacato árabe, em virtude da política expansionista americana.
Contudo, foi nas artes visuais, como a pintura, escultura, fotografia ou instalação que porventura mais rapidamente se fez sentir o desejo de catarse. A resposta de artistas de todo o Mundo ao que assistiam pela TV foi avassaladora e traduziu-se num número interminável de obras.
A marca do 11 de setembro na criação artística está presente até nas obras que não tratam o tema. Pelo impacto que teve em todo o processo de criação artística, não é exagero dizer-se que o ideal romântico do artista encerrado no seu ateliê, de costas voltadas para o Mundo enquanto trabalha, ficou exangue a partir desse dia. Então mero nicho, a reflexão - seja de teor político, social ou cultural - tornou-se um lugar central da criação. Para o melhor ou para o pior, consoante a perspetiva, o comprometimento ideológico ganhou força de lei e fez desabar o mito do artista imune a contaminações.
11/9
Livros
"O homem em queda" (Don DeLillo)
"Extremamente alto e incrivelmente perto" (Jonathan Safran Foe)
"Bleeding eye" (Thomas Pynchon)
"Todo-o-Mundo" (Philip Roth)
"A manhã do Mundo" (Pedro Guilherme-Moreira)
"Submissão" (Amy Waldman)
"A boa vida" (Jay McInerney)
"False impression" (Jeffrey Archer)
"O fundamentalista relutante" (Mohsin Hamid)
"Homem na escuridão" (Paul Auster)
"Netherland - Terra de sombras (Joseph O"Neill)
"Liberdade" (Jonathan Franzen)
Filmes
"00.30 Hora negra" (Kathryn Bigelow)
"O voo 93" (Paul Greengrass)
"11 de setembro" (Jules Naudet)
"Fahrenheit 9.11" (Michael Moore)
"Sicko" (Michael Moore)
"A última hora" (Spike Lee)
"The guys" (Jim Simpson)
"11.09.01" (vários realizadores)
"The Hamburg cell" (Antonia Bird)
"Worth" (Sara Colangelo)
Séries
"NYC Epicenters" (HBO)
"11.9: Um dia na América" (National Geographic)
"Frontline: America after 9/11" (PBS)
"Rebuilding hope: The children of 9/11" (Discovery)
"I was there" (Canal História)
"Memory box: Echoes of 9/11" (NBC)
"Inside the president"s war room" (Apple TV)