"The blues experience II" volta a juntar Budda Power Blues e Maria João num encontro de géneros ligados pelo improviso e pela abertura a outros universos.
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"Não me interessa o blues numa perspetiva museológica, interessa-me contribuir para a evolução do género e abri-lo a novos públicos". Foi com esse objetivo que Budda Guedes, um dos três fundadores, em 2004, dos Budda Power Blues, envolveu Maria João no projeto "The blues experience", que teve o seu primeiro capítulo em 2017. Chega agora o segundo tomo da experiência, um registo mais "seguro", porque a banda se sente agora à vontade para ser "visceral" e criar contraste com a "voz frágil" de Maria João.
A exploração e a aventura sempre guiaram o percurso dos Budda Power Blues, que foram eleitos, em 2016, o melhor exemplar nacional do género pela Blues Foundation e chegam, com "The blues experience II", ao 11.º lançamento. Com um conhecimento profundo da história do blues, Budda Guedes cita a frase de um dos seus fundadores, Willie Dixon: "O blues é a raiz, tudo o resto são frutos". E considera que mais do que um género, "o blues é um conceito, uma lógica de estar no música, um feeling que te permite detetar, em qualquer estilo, se existe ou não um aroma bluesy". É esse entendimento do blues como género aberto e inacabado - "no início era tocado só por um músico e não tinha qualquer estrutura" - que o levou a procurar o encaixe com "alguém de fora".
Esse forasteiro vinha do jazz, "um género mais próximo da música erudita, que implica maior aprendizagem e maturidade, ao contrário do blues, que é mais instintivo, direto e popular". Mas ambos os géneros partilham o improviso e a abertura a outras músicas. E, como viria a perceber Budda, os gostos de Maria João incluíam as tradições da música americana, do country ao rock. "Já intuía que ela fosse alguém que pudesse entrosar-se connosco, mas fiquei surpreendido pela forma como as canções que escrevi foram transformadas pela voz dela. Sobretudo nos concertos, os temas ganharam uma dimensão inesperada".
A hora da cumplicidade
Mas se no primeiro álbum houve ainda a preocupação de adaptar o som da banda "ao que pensávamos ser o registo dela, uma espécie de adivinhação e seja o que Deus quiser", no registo agora editado há "maior antecipação do resultado final": "Talvez se tenha perdido alguma espontaneidade, mas a cumplicidade que criámos permite conhecer o espaço de cada um e saber como funciona melhor cada momento. Pudemos agora libertar toda a nossa energia. E basear as letras em situações reais e conversas que fomos tendo." Como em "Building my own legacy", tema que resume o posicionamento histórico da banda face ao blues.