Espetáculo da companhia Visões Úteis tem lugar num reservatório de água do Porto. “A memória do aqueduto” estreia esta sexta-feira e fica em cena até ao dia 21
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“O espetáculo nasce do fascínio pelas coisas invisíveis das quais dependemos – da água na torneira à democracia.” O recente episódio do “apagão” traz especial pertinência às palavras de Carlos Costa, que juntamente com Jorge Palinhos criou “A memória do aqueduto”, espetáculo inserido no programa do 48.º FITEI - Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, cujas récitas terão lugar, entre esta sexta-feira e o dia 21, no reservatório de água do Bairro do Carriçal, no Porto.
Elogio prévio ao espaço disponibilizado pelas Águas do Porto à companhia Visões Úteis: trata-se de uma torre desativada, com cerca de 30 metros, donde brotam possibilidades. Seria bem útil que agora desprovida da sua função original pudesse servir como local permanente (ou regular) de acolhimento de concertos, leituras, experiências, mostras, teatro.
Na presente proposta todo o cilindro é explorado: há 14 espreguiçadeiras para o público, com uma inclinação que permite a observação vertical: os atores evoluem desde o solo às escadarias que sobem até ao topo da estrutura. O texto e os sons, que moldam tempo e espaço, são escutados através de auscultadores, propondo-se “experiência imersiva e reflexiva”, diz Costa.
E que experiência é essa? A de um colapso mundial provocado pela falta de água potável. Há uma esperança de solução em Atenas, onde funciona ainda o aqueduto construído pelo imperador Adriano. E é a partir dessa cidade que se articula um diálogo entre engenheiros: os do Porto, interpretados por Matilde Cancelliere e João Delgado Lourenço (ator e engenheiro civil), e o da Grécia, que surge através de vídeo e é encarnado pelo artista e diretor de estratégia e inovação das Águas de Atenas Giorgos Sachinis.
Nesta “peça para engenheiros”, que transita entre o naturalismo e o delírio sci fi, as referências plásticas vão de “Star trek” e “Espaço: 1999” à banda desenhada de Valérian e Luc Orient. Os alertas são claros: sem o invisível que tomamos como adquirido ficamos à mercê dos bárbaros.