“Daffodils & dirt” contém 12 canções produzidas por Richard Russell, onde sobressai a voz terna e profunda de Samantha Morton. Entre os convidados estão Alabaster DePlume, Jack Peñate e Ali Campbell (UB40).
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Conhecemos Samantha Morton sobretudo como realizadora e atriz, marcante presença em filmes como "Através da noite", de Woody Allen, "Control", de Anton Corbijn (era Deborah, a amada de Ian Curtis), ou mais universalmente "Relatório minoritário", obra distópica de Spielberg em que Morton encarnava uma "precog" com precisão desconcertante.
Se no percurso pelo cinema o seu talento está comprovado, tal como o carisma, é surpreendente a sua faceta musical: "Daffodils & dirt" é o disco de estreia da inglesa de 47 anos, produzido por Richard Russell, e que sucede ao quase despercebido primeiro EP editado em 2023.
Aqui denominada Sam Morton, a compositora chamou colaboradores de peso - de Alabaster DePlume a Jack Peñate ou Ali Campbell, dos UB40, que entra no dueto "Broxtowe girl", cujo vídeo contém uma declaração de amor à banda de reggae.
"Daffodils & dirt" causou um delicado estrondo: é um disco nostálgico, pessoal, um pouco etéreo, impecavelmente produzido e que fica marcado pela voz singular de Morton, artista que até a cantar - por vezes em registo "canto falado" - é imediatamente reconhecível, sendo palpáveis todas as suas características: a fragilidade e a delicadeza sentem-se, como também se sente a força, a profundidade.
Em "Cry without end", um dos temas mais comovedores, com um vídeo igualmente bonito, realizado e protagonizado por Sam Morton, repete como choraríamos sem fim se as lágrimas conseguissem expressar as nossas frustrações, mas também as celebrações, uma dualidade omnipresente nas 12 faixas.
A capa do álbum usa uma fotografia do aclamado fotógrafo Nick Waplington, que documentou a vida em Broxtowe Estate, em Nottingham, Inglaterra, na mesma época em que Morton lá crescia, na década de 1980 - a tal comunidade que fez da artista uma orgulhosa "Broxtowe girl".