“Sundial” é o primeiro álbum da rapper norte-americana Noname em cinco anos. Há aqui leveza e catarse, com melodias ao estilo romântico.
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Num mundo pautado pelas redes sociais e pelo comentário fácil a tudo, começa a ser comum a sensação de desligar com as causas – há tanta gente a dizer tanto sobre tanta coisa...
Também Noname – “nom de plume” da norte-americana Fatimah Nyeema Warner – se parece ter cansado de críticas vazias e de um positivismo bacoco, que não reflete sobre nada e que não acrescenta coisa alguma.
Por isso, nas 11 faixas de “Sundial”, a rapper dos EUA aproveita o micro e diz tudo o que tem a dizer, sempre com uma dose de humor, cinismo e autorreflexão.
Nada nem ninguém fica de fora. Chega até a haver críticas a estrelas como Kendrick Lamar, Rihanna, Beyoncé ou Jay-Z por aceitarem atuar no Super Bowl, descrita pela artista como uma estrutura criminosa. Mas falamos de reflexão e crítica profunda, certo? Sim.
Na mesma faixa, umas barras adiante, Noname fala de si mesma para criticar incongruências de comportamento. “Vá, Noname, vá! O palco do Coachella foi desinfetado / Eu disse que não me iria apresentar para eles e de alguma forma ainda caí na fila, porra!”.
Não se pense que o dedo apontado ao racismo, ao capitalismo e ao imperialismo são únicos. Há também reparos ao feminismo ou à própria comunidade negra.
Ainda assim, no seu todo, o álbum transmite um sentimento de leveza e de catarse, com melodias ao estilo romântico, batidas que nos transportam para um sonho e as rimas acompanhadas de um ‘flow’ que, não se percebesse a língua, e poderíamos achar que este é mais um álbum de (des)amor.
A acompanhar Noname estão artistas como Jay Electronica, $ilkMoney e Ayoni. Ouvir “Sundial” (“relógio de sol” numa tradução literal do inglês) é como uma viagem no tempo sem sair do lugar. Os ‘beats’ são saídos de inspirações ‘old school’, marcados fortemente pela presença de um baixo que, faixa sim faixa não, dá de si.
Com um claro crescimento desde os dois discos anteriores, “Room 25” (2018) e “Telefone” (2016), Noname consolida agora a sua posição entre os grandes da cultura hip hop.