Os escritos de Vinicius de Moraes sobre a temática amorosa foram compilados num só livro. A edição portuguesa de "Todo amor" já está disponível.
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Poucos seres vivem num estado de enamoramento permanente. Vinicius de Moraes era um deles. Não apenas pelas circunstâncias de vida - basta dizer que se casou por nove vezes... -, mas sobretudo porque a sua escrita sempre foi sinónimo de um estado de arrebatamento próprio de quem viveu com o amor a pulsar dentro de si.
Longe de ser garantia de felicidade, essa paixão que o consumia sem cessar resvalava com frequência para estados depressivos, sempre que o
amor inicial trazia consigo o ciúme, as dúvidas e a traição. Porque, como escreveu em "Canto de xangô", "amar é sofrer/amar é morrer de dor".
Publicado há dois anos no Brasil e agora disponível também em Portugal através da subsidiária Companhia das Letras, "Todo amor" é Vinicius de Moraes num só volume.
Se o autor do eterno "Eu sei que vou te amar" foi acima de tudo um poeta do amor, o essencial do que ele escreveu sobre esta temática assume, pois, um foro quase antológico.
A grande vantagem de uma reunião de escritos desta natureza (não há apenas poemas, mas também cartas, crónicas ou letras de canções) é o modo imediato como nos permite ver que, para Vinicius, o amor assumia tonalidades muito distintas, o que nos ajuda a compreender também por que razão regressava uma e outra vez aos amores.
Ainda mais sintomática é a propensão do poeta para considerar que "quem ama não tem paz". A evidência de que "o amor não é, portanto, "uma solução, mas um problema", como escreveu Eucanaã Ferraz no prefácio, encontramo-la um pouco por todo o livro.
Não faltam "cantos tristes", nos quais o autor carioca se interroga "onde se esconde a minha bem-amada", "sonetos de separação", quando o riso se transforma em pranto, ou simples "medos de amar", em que o próprio se vê como "um patético jogral" que confessa sofrer por viver.
É muito provável que as problemáticas associadas por Vinicius ao ato de amar fossem apenas meros pretextos para partir rumo a novas relações e consequentes desencantos. Mas, cínicas ou não, estas elucubrações sentimentais do imortal criador da "Garota de Ipanema" revelam simplesmente o íntimo de alguém incapaz sequer de conceber a vida sem que o amor - "sempre infinito enquanto dura" - estivesse presente em pleno.