Novo disco da violinista italiana Laura Masotto é o mais experimental dos seus trabalhos. Último concerto da minidigressão portuguesa acontece este domingo no Teatro Municipal de Matosinhos.
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Laura Masotto está de regresso a Portugal para apresentar o mais recente álbum, “The Spirit of Things”, lançado no início do mês. Com uma incorporação inédita de sintetizadores e alterações eletrónicas à já sua conhecida mestria com o violino, Laura afirma este trabalho, experimental, como sendo “uma nova fase”, sobre a qual esteve à conversa com o JN. Depois de Lisboa e Portalegre, a artista italiana apresenta-se este domingo, às 19.30 horas, no Teatro Municipal de Matosinhos.
Depois da primeira vinda a Portugal em 2021, apenas à cidade de Braga, regressar com mais datas é sinal de que foi uma vinda especial?
Dediquei a Lisboa uma peça homónima, que lancei no meu primeiro disco. Só isso demonstra a minha forte ligação a este país. Adoro-o. Portugal é maravilhoso, bonito e, acima de tudo, sinto-me em casa quando cá estou.
Desta vez atuaou em Lisboa. Ainda que o propósito seja o novo álbum, essa canção mais antiga não poderá faltar?
Terá certamente de fazer parte da minha estreia na cidade. E estou muito feliz por isso.
Este álbum é menos clássico do que a Laura nos tem habituado. Porquê esta mudança e como é que o compara com trabalhos anteriores?
Este é um álbum mais experimental, é a expressão que eu gosto de utilizar. Uso o som afetado do violino, ou seja, há mais distorções, mais atrasos, mais reverberação. Adorei compor este álbum, ainda que muito diferente do habitual, porque foi um novo período da minha vida. Foi criado a partir de uma viagem onírica, um percurso xamânico, que fiz com o objetivo de encontrar meu animal espiritual, o meu guia.
É diferente o processo de compor algo mais experimental ou algo mais clássico?
Acredito que, para mim, o processo é diferente. Nos discos feitos até agora, começámos sempre a compor com violino e depois acrescentei o que houvesse necessidade. Neste novo caso, muitas vezes comecei a compor com os sintetizadores e só depois pegava no violino para terminar a obra.
Se o álbum é diferente, podemos esperar um espetáculo ao vivo com novidades?
Sim. Não só porque o álbum é diferente, mas também porque sou uma pessoa diferente. Sinto-me muito bem neste período com a minha música e estou feliz por poder toca-la e partilha-la. Foi uma das minhas grandes aprendizagens nesta nova fase: aprendi esse pensamento na minha viagem à Guatemala quando uma curandeira que a música existe para ser partilhada, porque é algo importante na vida das pessoas. E com todo o caos mundial que existe atualmente, acho que, mais do que nunca, é o momento de partilhar arte.
Ao ouvir “The Spirit of Things” percebe-se uma viagem. As músicas foram pensadas individualmente ou foram preparadas para serem “vividas” em sequência?
Eu acho que este é um álbum que vive inteiro. Acho que o pensei assim porque é o que eu faço quando ouço música: adoro ouvir um álbum do princípio ao fim. Com o streaming há a tendência de se ouvir apenas os singles, mas eu ainda adoro ouvir o vinil e aproveitar todo o álbum. E foi isso que pensei: queria criar um álbum com uma ideia geral que tivesse uma mensagem e uma ligação da primeira à última música.
O álbum já foi lançado no início do mês. Qual foi a reação do público?
Foi muito boa. Não achava que as pessoas pudessem entender esta forma de música diferente do que costumo fazer. É estranho. É diferente. É com violino e eletrónica. Podia não ser bem aceite. Mas felizmente a reação surpreendeu-me, pela positiva. E também as atuações que já fiz ao vivo com o novo trabalho acho que provaram que foi bem conseguido.