Um dia que começou calmo mas acabou nos picos da euforia com Florence + The Machine e Dino D'Santiago a fazerem as delícias do público. O segundo dia foi a prova que há mais no NOS Alive do que os grandes cabeças de cartaz.
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Não era preciso olhar para as horas para saber que a entrada de Florence + The Machine estava perto. O público mobilizou-se todo para a frente do palco e era difícil não sentir a unidade na adoração a Florence Welch, mais que justificada. De vestido vermelho com mangas esvoaçantes e descalça, a cantora londrina foi a verdadeira estrela da noite. Fez quilómetros em cima do palco, não parou um segundo, e nunca, em momento algum, a voz vacilou.
O delírio total chegou com o hit "Dog days are over" e o momento mais arrepiante da noite aconteceria logo a seguir, quando Florence pediu à audiência que desligasse os telemóveis e desfrutasse, por alguns segundos, do concerto sem tecnologias. O pedido invulgar causou estranheza a alguns, mas no final ninguém falhou e o inédito aconteceu: telemóveis fora, alma presente.
Com uma performance singular, a vocalista do grupo de indie rock desceu do pedestal do palco para se fundir com os fãs da linha da frente e cantar, olhos nos olhos, o tema "Dream girl evil". O delírio chegou até às fileiras mais longínquas. Os grandes hits como "Shake It Out", "We got the love" e "Say my name" foram a cereja no topo do bolo. A fechar o palco principal, estiverem os Alt-J. A banda britânica apresentou o último trabalho "RELAXER", com a grandiosidade a que habituaram os fãs.
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Meia hora depois do início da atuação do trio, Dino D'Santiago estreava-se no palco Heinken, o segundo maior do Alive, e foi para lá que muitos se dirigiram. "Voei de mim", tema do disco mais recente "Badiu" foi o princípio de uma atuação que vai, sem dúvida, ficar na história da 14.ª edição do Alive. Com raízes cabo-verdianas, Dino D'Santiago usou a tradição familiar a seu favor e fundiu-a com sonoridades eletrónicas. O cariz social é rei nas suas letras e aproveitou o festival para homenagear as mulheres, a diversidade e a Ilha de Santiago, em Cabo Verde. As ovações a Dino foram constantes e a energia nunca esmoreceu apesar da hora tardia. Já passava da 1 hora da madrugada e muitos eram aqueles que viam o concerto pelo ecrã, pois a entrada na tenda era impossível dada a quantidade de pessoas a assistir. O público dançou, sorriu, cantou e deu nota mais que positiva à atuação do cantor de "Como seria" e "Nova Lisboa".
Foi preciso chegar a princesa do R&B para grande parte dos espectadores se concentrar em frente ao palco maior, ao início da noite. De verde tropa e com uma trança comprida a fazer lembrar a personagem da Disney Rapunzel, Jorja parecia ter enfeitiçado o público que balançava o corpo enquanto ouviam os temas do mais recente disco da artista, "Be right back", lançado em 2021. Com uma atuação segura, simples e sem erros, a cantora britânica revisitou ainda temas do início de carreira como "Teenage Fantasy" e "Blue Lights", sem deixar o hit de afrobeat "Be honest" fora do set. A homenagem Amy Winehouse foi um dos pontos altos da atuação, com Jorja a dar voz ao clássico "Stronger than me".
Há mais no Alive do que os grandes cabeças de cartaz
Elétrico como se estivesse ligado à corrente, Elijah Hewson edificou um concerto que parecia pequeno demais para o palco Heineken. O rock emergente dos Inhaler, que lhes tem rendido diversos elogios, atraiu miúdos e graúdos. Elsa Quintas, 45 anos, conhece o grupo há um ano e nunca mais parou de ouvir. "Descobri-os no Spotify, sem querer, e desde aí fiquei fã". Nas casas dos 20 e com apenas um trabalho discográfico, Robert Keating, Ryan McMahon, Josh Jenkinson e Elijah Hewson não se podem queixar da falta de amor do público português. Enquanto a banda deixava sangue e suor nas tábuas do palco, cá em baixo os fãs respondiam na mesma medida - energia, sorrisos, muitos, muitos saltos. A banda irlandesa tem ainda outro fator de atração extra na figura de Elijah: o vocalista é filho do histórico líder dos U2, Bono Vox.
Também fora dos holofotes do palco maior, a portuguesa Jüra desviou centenas de pessoas para o Coreto, com a apresentação do seu primeiro EP "jüradamor". Prova de que nem só de grandes palcos ou grandes carreiras se faz o festival.
Sombra não é para todos
Foi impossível não sentir o sol abrasador a queimar a pele durante o dia. A sombra foi escassa para tanta gente que vagueava pelo recinto após a abertura das portas. Os termómetros marcaram os 38 graus e nem o vento soube a refresco. Pouco depois das portas abrirem, a tenda do palco Heineken estava repleta de pessoas, mas não necessariamente para ouvir Gui Aly, o primeiro na programação do segundo dia - mas sim para se refugiarem do sol. "Não conhecemos o artista, estamos aqui mesmo pela sombra", revelou Ana Sousa, 31 anos, muito acalorada. À medida que o tempo foi passando, o espaço tornou-se pequeno demais para tanta gente.
Do outro lado do recinto, em frente ao palco NOS, o mesmo cenário: centenas de pessoas acumularam-se na pouca sombra que existia no relvado, enquanto aguardavam pela estreia dos Quatro e Meia no Alive.
De fato e gravata azul, instrumentos em punhos e vozes em uníssono, o sexteto de Coimbra fez, em português, as delícias das jovens que cantaram com eles o "O tempo vai esperar", "Bom rapaz" e ainda os hits "Olá, solidão" e "A terra gira".
As filas para os brindes, para a restauração e as mesas lotadas foram recorrentes ao longo do segundo dia do festival. Mesmo sem atingir a lotação máxima (55 mil espectadores), foi claro que o dia de Florence + The Machine, Alt-J e Jorja Smith chamou mais festivaleiros até ao Passeio Marítimo de Algés
. Ainda assim, os 11 hectares do recinto são chamativos à dispersão do público, que acaba por se espalhar pelos sete palcos.
Uma das estrelas do dia, Celeste apresentou-se metódica, séria e pouco expressiva, mas com um vozeirão daqueles não eram precisos sorrisos para apimentar o espetáculo. Com oito músicos a acompanhá-la, a vencedora do BBC Sound 2020, e do Rising Star nos Brit Awards tocou o seu single mais conhecido "Stop this flame" e deliciou os fãs mais antigos com "Ideal woman" e "Lately".