Stromae encerrou em beleza primeiro dia do Nos Alive. The Strokes cumpriam, mas não surpreenderam. As honras do dia vão também para Jungle, que deram um verdadeiro show ao final da tarde. Esta quinta-feira, Florence + The Machine, Jorja Smith, Alt-J e Quatro e Meia atuam no palco principal.
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Paul Van Haver, mais conhecido como Stromae, foi a grande estrela do palco principal do Nos Alive. Artista dos pés à cabeça, deu um verdadeiro espetáculo com leds, adereços, animações e ainda um cão robô que subiu ao palco para lhe entregar um casaco. Nada foi ao acaso na estreia de Stromae em Portugal.
A indumentária sóbria contrastou com o tom do artista, que apesar de falar maior parte das vezes em francês não teve dificuldades em conectar-se com o público. "L'enfer", "Tout les Memes" e "Fils de Joie", do disco lançado em março deste ano "Multitude", aqueceram o recinto para explosão que viria a acontecer com os hits "Papaoutai", "Formidable" e "Alors on danse". Coreografou o público e ainda pediu silêncio para encerrar o espetáculo com uma versão "a cappella" da música "Mon Amour". O cantor Stromae brilhou, mas foi o artista que deu vida a uma das atuações mais eletrizantes do dia.
Apesar do atraso, os fãs não arredaram pé para assistir aos cabeças de cartaz do primeiro dia. The Strokes começaram tímidos com o single "Chances" do álbum "Comedown Machine" (2013). Comunicativo e bem disposto, Julian Casablancas não deixou a energia esmorecer entre canções, confessou estar bêbado "outra vez", e foi com este espírito e abertura que animou o público de diferentes gerações. "Bad decisions" e "The adults are talking" - do mais recente trabalho discográfico "The new abnormal" (a nova anormalidade) - também fizeram parte do setlist. Este último valeu ao grupo nova-iorquino o Grammy de melhor álbum rock de 2021, considerado por muitos uma reflexão sobre o passar dos anos, onde se mostraram mais introspetivos que nunca.
Mas como seria expectável, foram os êxitos do passado como "New York city cops", "What Ever Happened?" e "You only live once" que fizeram a audiência vibrar. Parece que as críticas negativas ao concerto da banda no festival de Roskilde, na Dinamarca, podem ter ficado para trás, ainda que o regresso a Portugal, onze anos depois não tenha "enchido as medidas" a todos.
Os War on Drugs abriram a noite para aquele que seria um dia dedicado ao rock, com nomes consagrados do género popular. Foi ao som de "Old skin" que a banda norte-americana começou o espetáculo no Alive, que se mostrou pouco entusiasmante para o grande público. Apesar dos hits "Red eyes" e "Thinking of a place" não terem faltado no alinhamento, a forma desinspirada como o vocalista e guitarrista Adam Granduciel os cantou, a parecer desinteressado, mais os solos prolongados da sua guitarra, não fizeram as delícias dos festivaleiros, que tinham acabado de assistir ao concerto eletrizante dos britânicos Jungle.
A escolha arrojada, e pouco comum, de arrancar o concerto com um dos maiores êxitos da banda mostrou desde o primeiro minuto ao que vinham os Jungle.
"Keep moving" levou a audiência ao rubro e o concerto, com o sol aberto e alto atrás do palco, ainda mal tinha começado. O neo-soul com uma pitada de psicadelismo dos Jungle não deixou ninguém indiferente - aliás difícil foi ficar parado. A energia de Tom McFarland e Josh Lloyd-Watson, fundadores do grupo, foi constante, energizante e contagiante durante uma hora de espetáculo. "Happy men", "Time", "Busy earnin'" e "What d"you know about me?" seduziram toda a gente, mesmo aqueles que não estavam familiarizados com estilo de soul moderno.
"Não conhecia, fiquei fã"
"Está a ser muito giro, não conhecia, mas fiquei fã", confessou a lisboeta Teresa Sousa, de 17 anos. Também as amigas Catarina e Joana, de 26 anos, ouviram Jungle pela primeira vez ontem, influenciadas por Inês que já conhecia o grupo, e ficaram rendidas.
Foi um verdadeiro "show" com tudo aquilo a que o público tinha direito. Música, dança, alegria e até efeitos visuais que passaram despercebidos, uma vez que o sol ainda se fazia sentir no Passeio Marítimo de Algés.
O aposto foi o regresso do indie folk de Mallu Magalhães. A estrela brasileira abriu as honras do maior palco do Alive, com uma atuação intimista e sem grandes surpresas. Fiel a ela própria, a cantora e compositora fez do sorriso dócil e voz doce estrelas do espetáculo. Foi sólida, mas sem grandes momentos de intensidade ou euforia.
Sempre na mesma posição, no centro do palco, Mallu não escondeu a alegria de regressar ao Alive. "Que felicidade estar aqui, estou muito grata", disse na primeira interação com o público. A artista atuou no palco secundário do festival em 2018. Sem desiludir os fãs que a aguardavam, a paulista abriu o concerto com o mais recente álbum "Esperança" (2021), sem esquecer, claro, os êxitos por que todos ansiavam. "Sambinha bom", "Velha louca" e ainda recuou aos tempos da Banda do Mar, projeto que partilhou com Marcelo Camelo e Fred Pinto Ferreira, fechando com o single "Muitos chocolates".
Arranque em português
O pontapé de saída do festival foi dado pelos roqueiros Lefty. A voz robusta e segura de Leonor Andrade soou como uma espécie de chamamento para os festivaleiros que estavam na tenda do palco Heineken, o segundo maior do festival. A linha da frente da plateia mostrava-se em sintonia com o grupo, enquanto assistiam ao que parecia um concerto de garagem, reputação que a banda não renuncia.
O público assistiu ao álbum de estreia do quarteto, "Adrómeda", lançado este ano, e pode deliciar-se com os singles "Quarto 25", "Fiança" e "Cais", todos em português. E como o que é nacional é bom, a banda contou também com a presença dos Da Weasel na plateia, que ouviu a estreia do grupo no Alive.
Hoje é o 2.ºdia do festival de Lisboa. Florence + The Machine, Jorja Smith, Dino D'Santiago, Alt-J e Quatro e Meia são alguns dos artistas que vão atuar hoje.