CCN Ballet de Lorraine passou este fim de semana pelo Porto, onde deixou saudades de um futuro próximo em que a companhia francesa possa regressar. As duas récitas esgotaram o Teatro Rivoli.
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Infelizmente, e muitas vezes porque as restrições financeiras assim o ditam, não existem nas programações teatrais tantas coreografias grupais de grande número, como solos, duos ou pequenos grupos. O que deixa os espectadores privados da oportunidade de ver desenhos espaciais e efeitos que só são possíveis com muitos intérpretes. É portanto muito sedutora a presença de instituições como o CCN Ballet de Lorraine, este fim de semana, no Teatro Rivoli, no Porto.
O programa da companhia, escolhido pelo Teatro Municipal do Porto, trazia "Acid gems" do australiano Adam Linder, que se serve de "Jewels", de George Balanchine (1967), como inspiração, “explorando as possíveis ligações entre géneros de dança, estilos e suas influências”.
"Acid gems" é altamente provocador pelo seu uso de figurinos cores ácidas, cicloramas fluorescentes por vezes um pouco datadas e o uso de uma batida muito atrativa. O vocabulário de dança é muito interessante, como se o torso obedecesse a uma técnica onde as espirais em grande e pequena escala estão em uso contínuo e as pernas e os pés obedecessem a uma técnica clássica, com um petit allegro a ser executado permanentemente. O jogo é muito apelativo - e deu vontade aos espectadores de se unirem a esta festa concêntrica.
"Acid gems" é como um só quadro caleidoscópico e aqui reside a diferença com "Jewels" que é constituído de vários momentos. Um deleite de virtuosismo para o público.
A segunda parte do programa do CCN Ballet de Lorraine era "Static shot", da francesa Maud Le Pec, uma das que mais contribuiu para o repertório da companhia.
Como uma acintosa piscadela de olho à indústria da moda, Le Pec faz um desfile de personagens todas com coordenados distintos, com os cruzamentos muito bem estudados, eucinética em estado bruto.
Se o desfile ao som dos compositores Pete Harden e Chloé Thévenin começa por parecer de uma militância inalterada, os bailarinos partem depois para uma sedição para retornarem a uma procissão quase hipnótica com gestos bem conhecidos, como alguns tomados de empréstimo de "La Gaité Parisienne" ou rituais tribais e folclóricos. E um momento memorável com uma diagonal de lifts, em cânone que perdurará por muito tempo em qualquer amante de dança que passou pelo TMP.
Um programa que convida a um êxtase permanente e que deixou o teatro Rivoli em longos minutos de ovação à companhia.