
Tiago Brandão Rodrigues, Bruno Dias Pinheiro e Katjia Hoyer no debate que teve a Europa como tema
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No décimo e último dia do festival literário Utopia, em Braga, a historiadora alemã Katja Hoyer e o antigo ministro da Educação Tiago Brandão Rodrigues abordaram os desafios que o continente europeu atravessa. Uma conversa onde os sinais de preocupação pelo atual rumo foram a nota dominante.
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De Paredes de Coura à Ucrânia, passando pela Inglaterra e Alemanha, a conversa que juntou Katjia Hoyer e Tiago Brandão Rodrigues percorreu quase todo o espaço europeu, procurando deter-se mais na vertente da cidadania do que na componente política dos tratados.
O afastamento dos jovens da política e a procura por soluções mais extremistas foram abordados com fontralidade pelo antigo ministro da Educação, para quem as culpas da atual situação são claras: "A nova geração não fala do poder da Europa. Só quer saber se estamos a ser verdadeiros para com eles. E a verdade é que temos falhado. Não lhes damos respostas".
Autora do livro "Para lá do muro", em que explica que a vida na antiga República Democrática da Alemanha não se encaixava nas simplificações apresentadas no Ocidente, a historiadora defendeu que "a Alemanha continua com os mesmos problemas de sempre", incapaz de decidir "qual o rumo que quer seguir". Esses problemas existenciais que atravessam a economia mais forte da Europa tolhem não só os seus movimentos, mas também os da União Europeia, considerou.
O ressentimento que, segundo Hoyer, ainda assola muitos habitantes dos dois países distintos que acabam por ser a Alemanha ocidental e a de leste também se manifesta na Inglaterra, país onde vive desde 2011. O Brexit foi um dos tópicos que mereceu a atenção dos dois participantes do debate, com a historiadora a atribuir a decisão popular de saída da União Europeia à incapacidade dos políticos "de falarem diretamente com as pessoas". Tiago Brandão Rodrigues, antigo professor em Cambridge, foi ainda mais contundente, ao considerar o Brexit "uma tragédia" fundada em sentimentos como "a nostalgia, a memória e o medo". "Foi a forma que muitos ingleses encontraram de achar que iam voltar a ter o controlo", afirmou, acrescentando que, mau grado a saída, a Inglaterrra "continua a ter a herança comum europeia".
Apesar das notas de preocupação que pautaram a conversa, o ex-ministro acredita que o fim do sonho europeu não é necessariamente algo negativo. "Deixou de ser um sonho romântico, mas é isso também que o torna mais forte. Não se situa unicamente no plano ideal. Pertence também ao concreto".
