Para celebrar o Dia Internacional das Florestas, no próximo dia 21, o canal Odisseia vai estrear duas séries no especial “O poder das florestas”.
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No mês em que as florestas celebram a sua efeméride, a AMC preparou autênticas viagens pela natureza, enquanto alerta para a sua terrível destruição. Das propostas disponíveis, destaca-se a produção narrada por líderes indígenas, que contou com o apoio da UNESCO, “Guardiões da floresta”. Em particular, a estreia do quarto episódio, esta quinta, às 16 horas.
A série documental, de apenas cinco episódios, ilumina possíveis caminhos para uma solução eficaz contra os vários níveis de desflorestação. Fá-lo contando a história dos que defendem o ambiente diariamente.
Neste penúltimo episódio, o holofote é colocado na destrutiva desflorestação do pulmão da Terra, a Amazónia. Para expor a realidade foi escolhida uma das figuras centrais da liderança política e espiritual indígena, Benki Piyãko, cacique brasileiro da comunidade Ashaninka.
Em entrevista ao JN, o realizador Luc Marescot revelou os bastidores de “Brasil”, cuja preparação obrigou a um trabalho intensivo de oito meses.
O ângulo abordado foi escolhido com facilidade, afirma o realizador, sendo óbvia a “perseverança pela mudança de um homem”. Só que o cacique brasileiro, protegido pela família e todos que o rodeiam, até mesmo pela tradutora da equipa, não abria as portas da sua vida e por momentos, Luc pensou mesmo em desfocar-se de Benki.
“Foi a primeira vez, em 30 anos de realizar documentários, que esperei seis dias para dizer um simples ‘olá’ ao meu protagonista”, admite. Contudo, Marescot sabia exatamente o que queria e para tal conseguir retratar Benki era essencial.
“Existem muitos guardiões na Amazónia, há muitos ativistas; contudo, nós queríamos alguém com carisma, que já tivesse atingido algum objetivo. Por isso é que escolhi o Benki. Ele não se limita a pensar, falar ou filosofar sobre o que está a acontecer. Não quando há um homem que plantou três milhões e meio de árvores com crianças”.
Numa última tentativa construiu um quadro com a história que queria contar no seu documentário. No final, quando Benki percebeu a motivação positiva do realizador francês, concedeu livre entrada à sua vinda de forma confiante. “Carreguei comigo, até ao último dia de gravações, a enorme incerteza de conseguir recolher as imagens certas”, lembrou Marescot.
Após explorar 16 florestas tropicais, a dimensão da Amazónia não era novidade para o realizador, que se lembra desde cedo compreender os mecanismos desta natureza particular. Por isso é que Marescot, “não me quis concentrar em factos normais. Procurei pessoas que visam evoluir e melhorar os nossos comportamentos de consumo. A desflorestação no Brasil é maioritariamente causada pelo consumo europeu excessivo, de produtos provenientes da Amazónia”.
Segundo a Organização das Nações Unida para a Alimentação e a Agricultura, as principais razões passam pela rápida expansão da agricultura pecuária, indústrias extrativas e mudanças no uso da terra, estando a esgotar os recursos naturais da Amazónia.
“Acho as florestas um ecossistema único e defendo que são elas o nosso melhor aliado na luta contra as alterações climáticas. Se plantarmos árvores, trazemos chuva, água, oxigénio, vida selvagem. Há outro ecossistema que faça melhor? Não há”, argumenta confiantemente, acrescentando que na sua opinião intima que “a solução são as árvores”.
O ano passado, 2023, a desflorestação na Amazónia bateu o recorde, contudo, os esforços da luta pela ambiente estão a ganhar frutos. Um ano mais tarde a área derrubada caiu 60%.
Apesar desta ótima queda, a desflorestação não descansou, equivalendo mais de 250 campos de futebol por dia. Melhor que o ano anterior, contudo acima de 2016 a 2018. Para espelhar esta ideia, Marescot insiste, “acho que mostramos muita da realidade neste documentário, mas a verdade é que o problema não parece acabar”.
Para o realizador o mais importante é o público conseguir refletir sobre os seus consumos e como estes podem estar a afetar a desflorestação. “Se comermos carne de vaca, alimentada por soja vinda do Brasil, estamos a financiar a desflorestação”.
Pelo olhar calculado de Luc Marescot, este episódio emotivo abre portas não só a soluções, como traz uma nova luz à destruição desmedida da floresta que nos dá vida, para nos relembrar a importância da mudança.