Centro de Estudos da Cultura da Universidade do Porto abre portas, esta sexta-feira, num renovado Palacete Burmester.
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Vasco Graça Moura chamava à propriedade rural que tinha no concelho de Almeirim a sua Casa dos Livros, o refúgio onde albergava uma biblioteca de 40 mil volumes e se entregava a longas jornadas de trabalho literário.
Foi também esse o nome que a Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) atribuiu ao seu novo Centro de Estudos da Cultura em Portugal, que hoje abre finalmente as portas à comunidade após obras de requalificação que deveriam ter durado 10 meses, mas acabaram por prolongar-se durante três anos.
A coincidência do nome não se deveu ao acaso. Foi a partir precisamente da doação à universidade do acervo do escritor, feita pelos seus herdeiros no ano de 2016, que nasceu a vontade de albergar num único espaço múltiplas valências, unidas pelo estudo e divulgação literárias.
Transportar um acervo de tal ordem obrigou a uma complexa operação logística que só ficará concluída na totalidade quando todos os volumes tiverem sido devidamente catalogados.
Os vestígios do autor de "Modo mudando" na designada Casa dos Livros não se cingem à sua biblioteca. Logo no piso da entrada encontramos uma réplica do seu escritório, reconstituído a partir dos móveis e objetos pessoais que foram doados à universidade. Dos seus quadros de eleição à imponente cadeira onde revia as provas ou escrevia pela noite dentro, passando pelo cinzeiro de estimação ou as molduras de familiares, é sem dificuldade que o visitante reconstrói o ambiente doméstico e literário de Vasco Graça Moura.
Mais do que um depósito
O acervo do poeta e tradutor é apenas um dos que passam a ficar albergados no Palacete Burmester, um edifício secular contíguo ao Jardim Botânico que chegou a ser a primeira sede da Faculdade de Letras, mas foi perdendo importância ao longo dos tempos.
Na posse da Câmara do Porto desde a extinção da fundação de que era patrono, o acervo de Eugénio de Andrade passa também a ficar sob depósito no novo centro, que será inaugurado hoje, às 15 horas, pelo presidente da República.
A Autarquia irá atribuir também 20 mil euros ao novo centro de estudos nos próximos três anos, para "garantir o tratamento, estudo, promoção, divulgação e disponibilização ao público de todos os fundos documentais em formato físico e digital do poeta do Porto".
Os acervos de Albano Martins, Manuel António Pina ou Herberto Helder (estes últimos apenas sob a forma digital) são outros dos que passam a fazer parte do património da universidade portuense. "Mais do que preservar a documentação, queremos valorizá-la", sublinha Fernanda Ribeiro, diretora da FLUP, que vê na disponibilização desses espólios "uma oportunidade" para as unidades de investigação, internas e externas, desenvolverem atividade. "A partir da documentação vai ser possível realizar ou acolher palestras, livros, oficinas ou exposições em que se dê a conhecer a atividade daqueles cuja memória preservamos neste espaço".
Apesar de estar recetiva a acolher novas doações, a FLUP pretende sobretudo acervos integrais, incluindo livros, correspondência e manuscritos, para que o centro "não seja uma mera extensão da biblioteca".
Um espaço aberto à comunidade
Os professores e os investigadores, pertencentes ou não ao quadro da Universidade do Porto, terão um papel importante no desenvolvimento do projeto da Casa dos Livros. Mas, para Fernanda Ribeiro, diretora da universidade, "este é um espaço aberto à comunidade e não exclusivamente erudito".
O público em geral pode visitar o Palacete Burmester de segunda a sexta-feira, da parte da tarde, com acesso à sala dedicada a Vasco Graça Moura ou às exposições temporárias.
Os restantes pisos serão consagrados à investigação, equipados com salas e auditórios suficientes para o acolhimento de iniciativas em redor da literatura. Apesar de não serem ainda públicas as datas, a Casa dos Livros irá acolher ao longo deste ano e do próximo atividades em redor dos centenários do nascimento de José Saramago e Eugénio de Andrade.