Os micro impactos de uma revolução

“Dona Pura e os camaradas de Abril” é um romance do escritor cabo-verdiano Germano de Almeida, publicado em 1999, que ganha forma em cena, pela mão de João Branco e a Saaraci Teatral. A apresentação decorre no âmbito da 47.ª edição do FITEI - Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, com récita esta sexta-feira, às 21.30 horas, no Teatro Constantino Nery, em Matosinhos.  

A estrutura que se mudou há um ano para o Porto, onde estão os grandes laços afetivos e familiares de João Branco (filho de Isabel Alves Costa e José Mário Branco) pretende ser, como explica o seu criador, “uma companhia cabo-verdiana na diáspora, cuja estrutura, foco, dramaturgias e sonoridades são crioulas”. A cada novo projeto conta com novo elenco: “Muitos deles são cabo-verdianos que já trabalharam comigo durante os 30 anos que estive no Mindelo”, diz Branco.

A obra explora temas sociais e políticos de Cabo Verde com um toque de ironia e humor, através dos três casamentos de Dona Pura que simbolizam três períodos distintos da história cabo-verdiana: um primeiro marido português administrador, um italiano e um terceiro que permite tecer uma síntese antropológica e sociológica do país. 

Dona Pura, que apenas queria “transportar a sua lata de água em paz”, vê-se assim  testemunha das voltas da história, misturando episódios factuais históricos e dados pessoais em Cabo Verde.  

O espetáculo teatral inaugura uma trilogia cabo-verdiana sobre Amílcar Cabral. O segundo será uma proposta de teatro-dança sobre uma frase do político para o qual está aberta uma audição  para quatro bailarinos cabo-verdianos. E o último será um espetáculo concerto, “FMIK”,  com diferentes abordagens ao tema “FMI” de José Mário Branco (seu pai,) por músicos cabo-verdianos. 

A trilogia permite uma visão abrangente de como os valores de Abril provocaram efeitos díspares na emigração política e na emigração económica.