Patxi Andion é seguramente o mais português dos cantautores espanhóis. O título não lhe é atribuído de forma leviana, já que há 50 anos que dá concertos em Portugal. A celebração da efeméride é motivo para três concertos, dia 20, no Centro de Artes de Águeda, 21, na Aula Magna, em Lisboa e 22, na Casa da Música, no Porto.
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Para que o espanhol, que já escreveu canções para estrelas portuguesas como Ana Moura ou Mariza, perfizesse estas cinco décadas foi necessária resiliência: as duas primeiras vezes que tentou atuar em Portugal acabou expulso.
A primeira, em 1969, fazia a primeira parte do concerto de Manolo Diaz e acabou por ser levado pela PIDE e deixado na fronteira espanhola. A segunda, em 1971, participava no programa da RTP, o Zip Zip, quando foi forçado a fazer o mesmo trajeto. "Nunca me deram nenhuma explicação, porque a polícia política nunca dá explicações a ninguém, tal como estava tal me levaram". O cantor sabe no entanto que as suas amizades e conversas politicamente implicadas com nomes como Zeca Afonso terão um grande peso nestas viagens forçadas, numa época em que toda a Península vivia debaixo de ditaduras.
Aos 72 anos, 50 anos depois, tem um novo disco, "La hora Lobican", com dez novas canções e tem outro a caminho para 2020. "A hora Lobican é uma expressão muito usada nas Astúrias e na Galiza, para aqueles momentos ao amanhecer ou ao anoitecer em que não se consegue distinguir o lobo do cão", explica o cantor ao JN. "Continuamos a ter inimigos, mas eles não estão visíveis e temos metas que parecem irresolúveis como a imigração, a água, a violência machista".
A sua forma de fazer música mudou. Há maior vontade de depuração, de refinação. Aumenta a qualidade, mas "a música perde a ação direta. A linguagem refinada perde expressão, antigamente estava mais próximo das coisas", conta.
Esse caminho também o aproximou de Portugal. "As gentes de Portugal são uma maravilha, e para um país como o meu - bruto, tosco e duro - há uma incompreensão muito grande em relação a Portugal. E não me refiro à alta cultura portuguesa, mas ao povo. A prova disso é por exemplo a canção "Veinte aniversario", uma canção dita mais sensível, mais intima, que só é um êxito em Portugal".
Para os concertos de Lisboa e Porto, nos quais se vai apresentar em modo voz e guitarra, traz o português Ricardo Ribeiro.v