Primeiro disco em quatro anos da banda canadiana liderada por Alex Edkins traz o mesmo punk visceral, mas com mais melodia. E isso é mau? Não, de todo.
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“Num mundo de streaming e de playlists, a nossa música não se enquadra em nenhuma categoria fácil”, disse Alex Edkins, vocalista e guitarrista dos Metz, sobre “Up on gravity hill”, o novo trabalho da banda.
Lançado a 12 de abril, o primeiro registo em quatro anos do grupo canadiano foi editado pela Sub Pop, editora que sempre deu voz aos grupos sem terra sólida ou categoria óbvia que os encaminhasse para hordas de fãs – mas que depois prosperam no seu registo, com sucessões de discos essenciais.
Os Metz são assim: noise rock, pós-hardcore e indie, tudo misturado para erguer a nova onda punk, que inclui nomes de enorme vulto como os Idles ou os Fontaines DC (os três grupos já partilharam palcos).
Conhecidos pela sua energia arrasadora ao vivo, que por cá aturdiu todos os que os descobriram no Primavera Sound Porto 2013, em cinco discos os Metz cresceram – tal como, acrescentava Edkins, os próprios elementos: ele, o baixista Chris Slorach e o baterista Hayden Menzies mudaram, o mundo mudou, pelo que só faria sentido a música dos Metz mudar também.
Em “Up on gravity hill”, a urgência parece menor, o ruído está mais domado, menos cáustico, mas a intensidade e a força continuam lá, com as guitarras dissonantes a suportar uma aparente procura por mais melodia vocal. Está lá o ‘power’, a mancha sonora, o punk e o garage rock, mas há mais camadas, novas experiências e arranjos, tocados pela produção de Seth Manchester (Battles, entre outros) e participações de Owen Pallett e Amber Webber, dos Black Mountain.
O disco não é todo igual a si mesmo, nem aos anteriores, e isso é bom: em “Light your way home” há um surpreendente e eficaz toque de shoegaze; em “99” ou “Never still again” há rock carregado com riff viciante; em “Street light buzz” as guitarras soam mais sónicas. As letras tanto versam sobre conexão humana como ganância corporativa ou dúvidas existenciais, a discordância é sonora e lírica, mas é uma escolha, uma peregrinação pelas colinas de gravidade – e nós só temos que nos deixar levar.