Companhia belga Peeping Tom apresenta "Kind", última parte de uma trilogia familiar, este sábado, no festival GUIdance em Guimarães.
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"Todas as famílias felizes são iguais. Cada família infeliz é infeliz à sua maneira", escreveu Leão Tolstoi no romance "Anna Karenina". Essa peculiaridade cai sobre a obra "Kind" dos belgas Peeping Tom, que amanhã se apresenta em Guimarães, no âmbito da 11.a edição do GUIdance, Festival Internacional de Dança Contemporânea. Depois de conhecermos o Pai ("Vader") e a Mãe ("Moeder") chegou a vez de travar conhecimento com a Criança ("Kind").
Nota prévia: Ver uma peça de Peeping Tom é saber instintivamente que o lugar mais seguro é sempre fora de cena. Os cenários delirantemente inventivos, aos quais "Kind" não escapa, com a sua floresta e uma falésia, são perturbadores.
A ambiência perfeita para nos encontrarmos no filme "Maman", de Alejandro Aménabar, com as criaturas infernais incluídas e a três dimensões. A luz em tons de negro e azul, assim como os efeitos sonoros, com excertos operáticos de "Tristão e Isolda" cantados pela meio-soprano Euridike De Beul, são capazes de esfrangalhar os nervos do espectador.
A Criança que está obviamente longe de ser uma criança, antes um ser que insiste em mimetizar uma criança, com vestidinhos, totós, língua de fora e uma bicicleta minúscula, reproduz a inocência de alguém que se depara com algo pela primeira vez. Partindo da crença que as crianças nascem sem noções de moral e cabe aos adultos incutir-lhes.
Gabriela Carrizo e Franck Chartier fazem um pastiche de cenas violentíssimas - algumas dilatadas - e cobertas literalmente a glitter, o que coloca a dramaturgia na linha fina do humor negro. A dança no sentido estrito acaba por se perder em "Kind" mais do que nas outras produções da trilogia. Ainda assim, as interpretações de Maria Carolina Vieira e Yi-Chun Liu são impactantes.
Neste psicodrama em que são abordadas as teorias da transmissão intergeracional conseguimos regressar ao Pai e à Mãe desta família. No ato da educação, como a criatura da floresta, temos de ter olhos na nuca. Um espetáculo absolutamente imperdível, para ver este fim de semana.
"Kind". Peeping Tom
Centro Cultura Vila Flor, Guimarães
Sábado, às 21h30