São espaços de autor, novas formas culturais para um Mundo em confinamento. E multiplicam-se em Portugal.
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Entraram na primeira curva exponencial a partir de 2019, o que motivou a criação do festival Podes, destinado a premiar os melhores podcasts portugueses. E desde o início da pandemia que vivem um novo pico. Atraíram personalidades, diversificaram os conteúdos, profissionalizaram-se. Em tempos de pandemia, são também os lugares escolhidos por artistas e divulgadores culturais para chegarem aos seus públicos e captarem novos fiéis.
"Vivem um processo semelhante ao dos blogues", diz Hugo Gonçalves, escritor e guionista que criou, em 2017, "Sem barbas na língua" em parceria com o comediante Guilherme Duarte. "Começaram a ser feitos por desconhecidos e depois vieram figuras do mainstream que lhes deram muito mais visibilidade". Atento ao fenómeno antes da explosão por cá, Gonçalves era assíduo de podcasts internacionais de jornalismo de investigação e também de alguns blockbusters, como "This american life" ou "Serial".
No seu programa, que mantém uma audiência estável de 15 mil ouvintes desde 2019 e conta com perto de mil "patronos" que acedem a conteúdos exclusivos, trata de temas como literatura e cinema, política, ciência e costumes. Encontra duas grandes vantagens no podcast face aos média tradicionais: "Permitem formatos mais extensos e uma total liberdade temática. Além de que geram verdadeiras comunidades".
No reino da partilha
Também Nuno Gonçalves, de The Gift, tem paixão antiga pelos podcasts, mas foi a pandemia que alavancou dois projetos concretos, ambos incluídos na aplicação REV, lançada em janeiro, que disponibiliza o catálogo completo da banda e conteúdos inéditos. Nessa plataforma anima dois podcasts: "Quem é quem", onde entrevista convidados surpresa; e "Post", mais diarístico, onde verte textos sobre a atualidade, a música que ouviu, ou "o espantoso crescimento da minha filha". A sedução dos podcasts é semelhante à da rádio: "Há uma envolvência para lá da música, são viagens pelo interior das palavras e dos sons".
Quem arrancou com o seu podcast precisamente por causa do confinamento foi Vera Appleton, fundadora da Appleton Square, espaço de arte contemporânea em Lisboa. Sem qualquer experiência no jornalismo ou na rádio, seguiu tutoriais "para ver como se fazia" e em abril de 2020 fez a emissão-piloto. A motivação foi "partilhar o privilégio de ter conversas tão enriquecedoras com as pessoas do meio da arte, e também dar voz a essas pessoas, não só aos artistas, mas também aos técnicos, colecionadores ou curadores. No fundo, prolongar o espírito neutro e democrático da Appleton Square". No programa discutem-se obras, exposições e causas.