O corpo de Agustina Bessa-Luís está, desde as 10.30 horas, desta terça-feira, em câmara ardente, na Sé Catedral do Porto. As cerimónias fúnebres decorrem esta terça-feira, no mesmo local, às 16 horas, com o Bispo do Porto. Deste espaço, partirão mais tarde para uma cerimónia restrita à família, no Peso da Régua.
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Esta manhã muitos populares quiseram prestar a sua última homenagem à escritora, havendo uma contínua chegada de ramos e coroas de flores à Sé do Porto, onde a filha de Agustina, Mónica Baldaque, ia recebendo as pessoas. Na porta, alguma confusão com centenas de turistas a quem foi vedado o acesso ao interior da Sé Catedral.
Ainda antes das visitas de Rui Rio e Passos Coelho, que também por lá passaram a deixar o seu tributo, já algumas personalidades tinham feito a sua última visita.
"Hoje morreu a heroína de si mesma, uma mulher que fica na memória literária e cívica deste país. A finitude humana não é compatível com a imortalidade do que fica, e se cria para as gerações vindouras. E como foi possível no século XX renovar completamente a tradição literária romanesca, da literatura portuguesa. E para quem, como eu, conhece a obra de Agustina Bessa -Luís é uma perda ainda maior porque nos sentimos cada vez mais sozinhos. Fica-nos a companhia dos seus livros", comentou Salvato Trigo, reitor da Universidade Fernando Pessoa.
Artur Santos Silva, que privou com a escritora e a família, também quis prestar a sua homenagem. "Conheci-a primeiro como leitor quando li "A Sibila". Depois, no Banco Português do Atlântico, trabalhei com o seu marido, dr. Alberto Luís, e foi a partir dessa fase que convivemos. Era surpreendente e fascinante falar com ela, tinha um rigor enorme e um método muito exigente, uma capacidade de trabalho extraordinária, por isso nos deixou uma obra larguíssima. E uma atração e coragem de antecipar os acontecimentos. Avaliava bem os grandes protagonistas políticos. Admirava muito esse seu lado. Exercia um grande fascínio sobre as pessoas. Foi pena ter sido pouco ouvida", comentou comovido.
Ângela Marques, investigadora da obra de Agustina, também esteve na Sé do Porto, e realçou o legado deixado pela escritora. "Ela deixou uma obra inteira, faço questão de sublinhar isto. Tal como ela uma vez me confessou, não gostava que só a associassem sempre com "A Sibila". Obviamente, que foi aquela que lhe permitiu o salto para o conhecimento público. Mas, tudo o que veio a seguir foi um monumento literário. Mas ainda não foi verdadeiramente compreendido, nem vai ser no meu tempo, não vai atingir o patamar que merece. Ela merece que as Faculdades a estudem e que haja teses de doutoramento em grande quantidade, é uma obra que ultrapassa as fronteiras do nosso país".
Joaquim Guerra, cabeleireiro da escritora, visivelmente sensibilizado, também se foi despedir. "A cultura portuguesa ficou muito mais pobre. Agustina era uma senhora muito diferente em tudo, no traje, na maneira de ser, no tratamento. Lidei com ela muitos anos e estou muito sensibilizado, é um dia muito triste para Portugal. E Portugal ficou muito mais triste".
As homenagens prosseguem esta terça-feira durante a tarde.