Deste sábado até dia 9, há mais de cem músicos em quase 30 concertos em oito espaços da cidade. A 9.ª edição do Festival Porta-Jazz é a mais internacional de sempre.
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Se a música é linguagem que reflete a forma como nos relacionamos e interagimos, talvez o Jazz seja ainda mais isso, porque é conversa em tempo real, como na vida real, mais na base da improvisação. A ideia, aqui numa adaptação livre do original, é de Chris Cheek, o conceituado saxofonista norte-americano que vai ao Porto esta semana atuar no 9.o Festival Porta-Jazz e que contou ao JN como vai longa a relação com artistas portugueses desde que em 2005 foi convidado a gravar um álbum com a Orquestra Jazz de Matosinhos.
Cheek, desta feita convidado pelo quarteto MAP, liderado pelo pianista Paulo Gomes [dia 7, Rivoli], é um dos vários convidados estrangeiros da edição mais internacional de sempre do certame, que arranca hoje e se prolonga até dia 9. O saxofonista Ohad Talmor, o baterista Jeff Williams ou o contrabaixista Thomas Morgan são outros exemplos.
Todos participarão em encontros inéditos que encaixam no mantra da Associação Porta-Jazz, organizadora do festival: fomentar "a criação artística original na área do jazz" e "fazer com que o movimento de músicos do Porto tenha uma interação mais alargada com outros movimentos de outros países". "Isto enriquece a música, os músicos e o público", afirma João Pedro Brandão, diretor do festival, ao JN.
Jazz na igreja
O programa é extenso, diversificado e cheio de momentos "irrepetíveis" [ler caixa], mas um dos mais originais terá lugar na Igreja Nova de Cedofeita, na segunda-feira à noite. É lá que vão atuar a trompetista Susana Santos Silva, o contrabaixista Torbjörn Zetterberg e o organista Hampus Lindwall. O trio já gravou um disco numa igreja ["If nothing else", 2015, em Paris] e tem outro a caminho, "mas não toca muito, porque não é fácil organizar concertos em igrejas com órgãos", conta ao JN Susana Santos Silva, a partir da Suécia. A trompetista portuense volta assim a casa para tocar num contexto muito particular: "O espaço acústico numa igreja é como se fosse mais um músico". A sonoridade do trio, descreve, é "dos céus e das profundezas ao mesmo tempo". Estranho, sim, mas "mágico também", completa.
Festival em crescimento
Ao todo, o Festival Porta-Jazz junta este ano mais de uma centena de músicos em quase 30 concertos espalhados por oito espaços da Invicta: da Sala Porta-Jazz, onde o certame arranca este sábado, ao Rivoli, passando pela Casa da Música, FEUP, Passos Manuel, ESMAE, Hot Five e Casa do Ló.
A primeira edição, em 2010, fez-se em dois dias e "com 40 músicos do Porto", mas serviu para "tomar uma posição" numa cidade culturalmente adormecida. "Havia uma comunidade de músicos de jazz que estava perdida e dispersa. E nós quisemos, por um lado, mostrar à cidade que essa comunidade existia, e mostrar à comunidade que se podia reunir e ter força", conta João Pedro Brandão.
Oito anos volvidos, a comunidade consolidou-se e cresceu. O festival também. Para o ano, há edição redonda e um objetivo que se mantém: "fazer com que o movimento que era local continue a ser local, mas tenha uma abrangência completamente internacional".
PROGRAMA
Frederico Heliodoro
Estreia do quarteto liderado pelo baixista brasileiro, "uma das figuras mais promissoras da sua geração". Este sábado, 19 horas, Sala Porta-Jazz.
Demian Cabaud e Mário Costa
Dois concertos, domingo, na Casa da Música. O contrabaixista argentino e o baterista português terão acompanhamento de luxo.
Marcos Cavaleiro e Ohad Talmor
Marcos Cavaleiro convida, segunda-feira, um dos contrabaixistas mais importantes da atualidade: Thomas Morgan. Depois, o Coreto atua com Ohad Talmor.