Evento perdeu apoio comunitário e, sem essa ajuda, não se realizará no próximo ano. Organização salvou edição deste ano.
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O Portugal Fashion, um evento de promoção da moda nacional que permite divulgar as fileiras do têxtil e calçado e alavancar a internacionalização do setor, está em risco de não se realizar a partir do próximo ano por falta de financiamento europeu. A edição de outubro, que arranca na próxima terça-feira, já não será financiada em 85% por fundos comunitários, como era habitual. Nas vésperas da realização do certame, a Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) ficou a saber que não teria ajuda financeira e conseguiu, em cima da hora, reunir apoios suficientes para manter os desfiles e as demais iniciativas. No entanto, em 2023, não tem condições para repetir o esforço, o que pode implicar o fim do Portugal Fashion.
O JN apurou que a informação sobre a inexistência de financiamento para o evento foi comunicada, recentemente, pelas entidades gestoras dos fundos comunitários. O Portugal Fashion estava a ser financiado pelo Portugal 2020, contudo, o quadro comunitário chegou ao final e ainda não abriu outro (Portugal 2030) no qual se possa inserir.
"A menos de um mês do evento, ficamos a saber que não íamos poder contar com fundos comunitários. Fizemos todos os possíveis e vamos garantir esta edição, mas, sem uma clarificação e uma garantia, o evento está em risco para o próximo ano", explica Alexandre Meireles, presidente da ANJE, ao JN. As condições para o Portugal Fashion da próxima semana foram asseguradas "pelos parceiros institucionais e pelo financiamento privado", acrescenta, sem especificar o valor em causa. A organização já solicitou "uma reunião ao ministro da Economia, com caráter de urgência", mas ainda não obteve resposta.
"Fizemos todos os possíveis e vamos garantir esta edição, mas, sem uma clarificação e uma garantia, o evento está em risco para o próximo ano"
Têxtil vale SEIS mil milhões
A realização do evento no Porto é tida como essencial para o têxtil e o calçado. Ao dar "visibilidade" à fileira do têxtil nacional, através do "espetáculo que é a passagem dos produtos pós confeção", este certame potencia negócios com valor acrescentado, novos contactos e atrai pessoas, adianta Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP).
Através do Portugal Fashion, as marcas nacionais encontram um palco que as ajuda a catapultarem-se internacionalmente e chegar às semanas de moda internacionais. E, com elas, a fileira do têxtil ganha destaque e valor. Mário Jorge Machado ressalva que o setor têxtil e de vestuário em Portugal "tem muitos compradores de outras geografias". Conta com "135 mil pessoas e seis mil empresas. Exporta perto de seis mil milhões de euros por ano, sendo que este deve ser o melhor ano de sempre".
"O Portugal Fashion é importante, porque, além de mostrar o trabalho de cada um dos designers e marcas, permite fazer uma ligação à indústria que está por detrás"
Dentro da fileira, "o elo mais fraco, que está menos desenvolvido, é o de marcas com origem portuguesa. Não temos conseguido criar marcas com um posicionamento a nível global". E, "se não tivermos um centro em que se comece a fazer a criação dessas marcas, matamos ou diminuímos significativamente a possibilidade de isso acontecer", explica, ainda, Mário Jorge Machado.
Nesse sentido, se o Portugal Fashion acabar, "vai ser ainda mais difícil" dar visibilidade, sobretudo a nível internacional, ao setor têxtil e, em particular, às marcas nacionais. "A dimensão internacional vai ficar fortemente prejudicada e diminuída", frisa. Com este evento, há uma promoção setorial e do país. Por isso, "deve haver algum investimento público" para fazê-lo, defende o presidente da ATP, descartando a possibilidade de serem as empresas do setor a suportarem todos os encargos.
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Evento entre 11 a 15 de outubro
A edição de outubro do Portugal Fashion arranca na terça-feira e decorre até ao próximo dia 15 (sexta-feira). Os desfiles terão lugar em vários locais do Porto, desde Alfândega e Bolhão ao Mosteiro de S. Bento da Vitória e ao Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto.
Junta criadores novos e conhecidos
O certame integra novos criadores e nomes conceituados da moda, como Marques"Almeida, Ernest W. Baker, Miguel Vieira, Alexandra Moura, Maria Gambina, Katty Xiomara e Luís Onofre.
"Fizemos todos os possíveis e vamos garantir esta edição, mas, sem uma clarificação e uma garantia, o evento está em risco para o próximo ano"