Mónica de Miranda, Sónia Vaz Borges e Vânia Gala são as artistas e curadoras da participação portuguesa na 60.ª Bienal de Veneza.
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Em “O império às costas – retornados, racismo e pós-colonialismo”, João Pedro George apresenta-nos uma reflexão sobre as causas e formas de deteção de um racismo endémico, instalado na sociedade portuguesa, como consequência de séculos de colonialismo e do domínio de uma narrativa que coloca o branco, europeu, numa posição de superioridade em relação ao negro, quase justificada por uma espécie de ordem natural das coisas.
Numa enumeração de gestos simples e (talvez) inconscientes que muitos têm (como por exemplo, segurar na carteira se nos cruzamos com um negro na rua durante a noite), o autor descreve um retrato lúcido do país. Os acontecimentos recentes, passados em bairros de habituação municipal da grande Lisboa, e a retórica que deles nasce, dá-nos conta de um país que, na verdade, nunca deixou de ser e pensar-se como metrópole de uma espécie de paraíso perdido. As diferenças (ou mesmo a ausência) do elevador social para cidadãos racializados estão, de resto, à vista, na organização social do trabalho em Portugal, levantando-se a dúvida de quantas gerações são necessárias para que a condição de pobreza e de servidão seja quebrada.