Portugal segue "a tendência global" da subida de evitar notícias, sendo as da guerra da Ucrânia "as mais evitadas", e a televisão continua a ser fonte preferencial, mas em queda.
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"O evitar ativo de notícias afirma-se como uma tendência global à qual Portugal não foge", indica o "Digital News Report 2023", divulgado esta quarta-feira, que é o 12.º segundo relatório anual do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo (RISJ, na sigla em ingês).
"Portugal encontra-se numa posição intermédia, entre 46 países, com sensivelmente um terço da população a evitar ativamente notícias", adianta o relatório, salientando "que os portugueses evitam notícias de forma indiscriminada, em detrimento de formas mais seletivas, com 48% dos que dizem evitar notícias a afirmar que pura e simplesmente reduzem o acesso àquelas, enquanto 40,8% dizem evitar aceder a fontes específicas de notícias".
Apenas um quinto (20,4%) afirma evitar tópicos específicos. Contudo, mais de metade (52,1%) dos portugueses que utilizam a Internet "dizem ter interesse por notícias, registando-se até um ligeiro aumento, de 1 ponto percentual, face ao ano anterior". Apesar disso, quase dois terços (63,9%) "afirma estar mais interessado em notícias com um pendor positivo e construtivo ou notícias que se foquem mais em soluções e não apenas em problemas".
Guerra na Ucrânia é tema que portugueses mais evitam
O estudo português destaca ainda que "em Portugal cerca de um terço dos inquiridos evita ativamente notícias" e que "este fenómeno não é alheio à guerra entre a Federação Russa e a Ucrânia, na medida em que ele parece ter contribuído substancialmente para o aumento daqueles que dizem evitar propositadamente notícias".
Aliás, a invasão da Ucrânia "é o tema noticioso que os portugueses mais evitam - 37,6% declaram evitar este tema de forma ativa", seguindo-se as notícias "relacionadas com entretenimento e celebridades (33,8%), o desporto (30,6%) e as notícias sobre crime e segurança (30,6%)". Já os tópicos ou temas que os portugueses menos evitam são as notícias locais ou regionais (7,0%), cultura (8,4%), ciências e tecnologia (9,4%) e ambiente e alterações climáticas (9,8%).
Televisão com papel de destaque
A televisão em Portugal "continua a ser usada para acesso a notícias por 67,6% dos portugueses e por 51,0% como principal fonte de notícias", mas registam-se quebras face a 2022, "na ordem dos 6,4 pontos percentuais, enquanto forma de acesso e de 2,6 pontos percentuais como principal forma de acesso".
Apesar da importância da televisão, "regista-se também que os portugueses incluem diversas outras fontes nas suas dietas informativas".
Por exemplo, "apesar das dietas mediáticas portuguesas incidirem sobretudo sobre a TV e Internet/redes sociais, a rádio continua a ter um papel muito importante na dimensão noticiosa", lê-se no documento. A Internet (incluindo redes sociais) é usada por mais de dois terços (73,6%) e, de forma isolada, "as redes e media sociais são utilizados como principal fonte de notícias por 18,8% dos portugueses".
A imprensa "continua a ter um papel residual, "sendo em 2023 a principal fonte de notícias para apenas 4,2% da população", mas com uma melhoria face a 2022, enquanto a rádio como fonte informativa "continua a chegar a cerca de um terço dos portugueses, e é a principal fonte de notícias para 7,1%".
Dos países "onde menos se paga" por notícias online
"Portugal continua a surgir como um dos mercados onde menos se paga por notícias online, sendo que apenas 10,9% dos portugueses dizem ter pagado por notícias em formato digital no ano anterior, face a uma média global de 17%", lê-se no documento.
Em França, a percentagem daqueles que pagam é 11%, no Japão são 9%, o mesmo que no Reino Unido. Em sentido inverso, a Noruega e a Suécia "continuam a destacar-se como os mercados onde mais se paga por notícias online, com proporções de 39% e 33% sobre as respetivas amostras nacionais", refere o Digital News Report 2023. Em Espanha, a percentagem é de 13% e, em Itália, de 12%. Nos EUA, é de 21%, a mesma percentagem que na Finlândia, enquanto na Austrália é de 22%.
"Tal como em anos anteriores, os portugueses que pagam por notícias online continuam a preferir a subscrição em formato ongoing, contínuo, independentemente da periodicidade do pagamento (36,1%)", refere o relatório. Por sua vez, "encontramos, numa proporção igualmente próxima, o pagamento por notícias digitais de forma indireta, através da subscrição de outro serviço que inclui esse acesso a notícias em formato digital (34,7%)", indica o Digital News Report.
Entre os não pagantes por notícias digitais, mais de um quarto (27,0%) afirma "que pagariam se o preço fosse mais acessível, mas 16,8% indicam que o conteúdo não é atualmente suficientemente relevante para si, enquanto número semelhante (16,5%) afirma que preferiria pagar por um serviço que permitisse aceder a vários sites de notícias em simultâneo".
Na edição deste ano, à semelhança do que foi feito em 2016, "foram aplicadas questões relativas à influência dos algoritmos e da editorialização na descoberta de conteúdos, explorando-se os benefícios de receber conteúdos noticiosos selecionados por editores ou jornalistas, conteúdos sugeridos via algoritmo com base no consumo passado ou com base no consumo dos amigos/conexões nas redes sociais", refere o relatório.
Assim, 38% dos respondentes "concordam que receber histórias selecionadas para si por editores ou jornalistas é positivo e 35,7 avaliam positivamente a seleção com base no seu consumo passado".
A proporção de "inquiridos a concordar que a seleção com base no consumo de amigos ou conexões nas redes é substancialmente menor, na ordem dos 24,3%", mas os mais jovens "tendem a ver mais positivamente os sistemas de seleção com base no consumo de amigos ou conexões".
Jovens preferem vídeos no Instagram e TikTok
Em termos de formatos de notícias, os jovens preferem vídeos no Instagram e TikTok, e os podcasts consolidam-se no consumo de media dos portugueses.
"Os portugueses tendem a preferir menos o texto do que os inquiridos do Digital News Report a nível global (50,0% face a 57,0%), e demonstram preferir mais os vídeos noticiosos online (34,0% face a 30,0%) e o áudio (16,0% face a 13,0%), seja rádio em direto ou 'podcasts'", aponta o estudo.
Para o consumo de vídeos online, "os mais jovens, entre os 18 e os 24 anos, preferem sobretudo o Instagram (39,2%), o TikTok (33,3%) e o Youtube (30,6%), embora em geral, os portugueses usem mais o Facebook (33,2%), o Youtube (29,2%) e em terceiro lugar os websites ou apps de marcas de notícias (27,1%)".
As redes sociais Instagram e o TikTok "surgem num segundo plano, tendo sido usados na semana anterior por 20,7% e por 15,3% dos inquiridos, respetivamente".
Relativamente aos podcasts, mais de um terço (38%) dos inquiridos "escutaram algum no mês anterior, num quadro global em que 36% dos inquiridos a nível global são consumidores" deste formato.
"O alcance dos 'podcasts' em Portugal é mais prevalente entre os mais jovens - 60,8% dos jovens entre os 18 e os 24 anos escutaram algum 'podcast' no mês anterior, face a 38% dos portugueses em geral", adianta.
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Mais sobre o estudo
O estudo português tem como autores Gustavo Cardoso, Miguel Paisana e Ana Pinto Martinho, investigadores do OberCom e do CIES-ISCTE. O tamanho total da amostra é de 93.895 adultos, com cerca de dois mil por mercado. O trabalho de campo foi realizado no final de janeiro/início de fevereiro deste ano e o inquérito foi realizado online.
Entre os 46 mercados estão EUA, Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Espanha, Portugal, Irlanda, Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Bélgica, Holanda, Suíça, Áustria, Hungria, Eslováquia, República Checa, Polónia, Croácia e Roménia. Inclui ainda Bulgária, Grécia, Turquia, Coreia do Sul, Japão, Hong Kong, Índia, Indonésia, Malásia, Filipinas, Taiwan, Tailândia, Singapura, Austrália, Canadá, Brasil, Argentina, Colômbia, Chile, Peru, México, Nigéria, Quénia e África do Sul.
O OberCom - Observatório da Comunicação, enquanto parceiro estratégico, colaborou com o RISJ na conceção do questionário para o mercado português, bem como na análise e interpretação dos dados.