Ator Pedro Hossi e encenador António Terra juntam-se, 20 anos depois da última vez, para arriscarem uma incursão por "Uma noite na Lua". Estreia esta terça-feira, em Lisboa.
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O ator Pedro Hossi, cujo percurso foi-se repartido entre Luanda, onde nasceu, Portugal, onde cresceu, Nova Iorque e Paris, onde estudou, e Los Angeles, onde viveu, regressa hoje ao palco português para protagonizar o premiado monólogo "Uma noite na Lua". O espetáculo estará em cena até ao dia 31 de agosto, de terça a sexta-feira, às 20 horas, no Estúdio Time Out, no Mercado da Ribeira, em Lisboa.
Esta produção resulta de um reencontro do ator com o encenador brasileiro António Terra, duas décadas depois de terem trabalhado juntos. Dessa vez, levaram à cena a peça "Perdoa-me por me traíres", do escritor e jornalista brasileiro Nelson Rodrigues (1912-1989). Apesar de quererem deixar essa experiência no passado, acabaram por regressar a um autor brasileiro, João Falcão.
Foi amor à quinta página. "Li as primeiras cinco páginas e disse ao António: é isto que quero fazer. Tem cadência, tem esperança. E mostra que podemos mudar aquilo que somos", lembra Pedro Hossi, que recentemente desempenhou o papel de Xanana Gusmão para uma produção da Netflix chamada "Sérgio", sobre a vida do filósofo e diplomata brasileiro da ONU Sérgio Vieira de Mello, assassinado no Iraque em 2003.
"Este regresso ao palco obrigou-me a uma nova realidade, a uma projeção de voz e de movimento à qual já não estava habituado. É o regressar às origens à escola de teatro, ganhar de novo essa dinâmica", diz Hossi.
"Uma noite na Lua", estreada na década de 1990 do século passado, é bem conhecida em Portugal, uma vez que o comediante brasileiro Gregório Duvivier pegou nela em 2012 e fez por cá, em 2016, uma longa temporada.
Texto existencial
A peça conta a história de um autor com dificuldades para acabar de escrever uma peça sobre um homem solitário, enquanto é atormentado pelas recordações da ex-mulher, Berenice.
"É muito fácil haver uma identificação com o protagonista, porque todos nós já fomos abandonados por alguém. Como estou a tentar andar nos sapatos daquela personagem, consigo estabelecer um paralelismo e entender o que é querer continuar com uma relação que já não existe, o que é o bombardeamento de pensamentos que isso provoca e que esta personagem vai verbalizando."
António Terra, referiu-se, na conferência de imprensa, a um "texto intenso", a um monólogo "com vários eus a atormentar o autor, em plena crise existencial". A adaptação do texto coube ao escritor José Eduardo Agualusa, que fez um ajuste do português do Brasil ao português de Portugal. Uma referência como "o Mengo [diminutivo do Flamengo], passou a Benfica".
Outro desafio foi criar uma semiarena". "Temos o público sentado em U e uma espécie de passarela por onde o ator circula". Mas o maior desafio é atribuir ao momento um caráter dramático e poético.