Como quase tudo o que depende da evolução da pandemia, também os concertos e festivais enfrentam uma grande incógnita em 2021. Haverá condições para se realizarem? E em que moldes poderão decorrer?
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Para tentar responder a estas perguntas foi criada, na semana passada, uma equipa de trabalho constituída por representantes de várias associações de promotores e técnicos, do Ministério da Cultura, das Secretarias de Estado da Saúde e do Turismo, e da Inspeção-Geral das Atividades Culturais.
Com o compromisso de reunir quinzenalmente, a equipa terá na agenda a criação de uma estratégia que possibilite a fruição destes eventos sem prejuízo da saúde pública. As regras e procedimentos terão ainda de ser estudadas, mas a disponibilidade para dialogar, por parte das autoridades, gerou algum otimismo nos promotores. "Até à data desta reunião os festivais simplesmente não iam acontecer, agora a conversa está lançada", disse ao JN Álvaro Covões, diretor do festival Nos Alive e representante da Associação de Promotores, Espetáculos, Festivais e Eventos.
Entre as propostas em cima da mesa inclui-se a criação de um "recinto esterilizado" ou "bolha segura", o que se traduz em eventos cuja admissão fica reservada a pessoas já vacinadas ou que apresentem teste negativo à covid-19, explicou Covões. "Dessa forma haverá a garantia que não há infetados entre o público." O responsável lembrou que as medidas que forem aprovadas servirão também de referência para eventos corporativos, festas ou congressos.
Experiências de sucesso
Também apologista da criação de uma "bolha", Luís Montez, diretor da Música no Coração, promotora que organiza festivais como o Super Bock Super Rock ou o Meo Sudoeste, acredita que até à época dos festivais "os testes rápidos de saliva irão generalizar-se como as máscaras e democratizar-se nos preços", e defende acordos com laboratórios que permitam que "quem tiver bilhete vai ao laboratório e faz o teste". Montez, que considera que os festivais deste ano poderão ser favoráveis aos artistas portugueses, invoca experiências bem sucedidas na Europa, como as que se realizaram na Sala Apolo, em Barcelona, ou na Konzerthaus Dortmund, na Alemanha, em que se fez o rastreio de público presente em vários concertos, não sendo detetados casos positivos posteriormente. O promotor enfatiza que não há registo de surtos originados em espaços culturais.
Já Ricardo Bramão, presidente da Associação Portuguesa de Festivais de Música (Aporfest), considera que, "sendo assegurada a bolha, não haverá necessidade de limitar a lotação dos recintos. Mas avisa que as decisões terão de ser tomadas até ao início de março, sendo necessário ponderar as diferentes tipologias de festivais, "os pequenos, médios e grandes, os que têm campismo ou os que são gratuitos".
Da Europa vão surgindo notícias de sinal contrário: o festival de Glastonbury, em Inglaterra, está já oficialmente cancelado; e o festival Unum, que se realiza em junho na Albânia, será o primeiro a fazer uso dos testes rápidos.
Dúvidas
Testes rápidos
Suscitam várias questões: serão feitos antecipadamente ou à entrada do recinto? Haverá testes diários? Estarão incluídos no preço do bilhete?
Vacinas
Os promotores acreditam poder contribuir para a toma de vacinas entre os grupos mais jovens. Mas estarão esses grupos já vacinados na época dos festivais? E apresentam o boletim comprovativo à entrada ou submetem-no por via digital?
Distância e máscaras
Supondo que todo o público está vacinado e testado, mantêm-se as regras de distanciamento e a obrigatoriedade de máscara no interior dos recintos?
Calendário
Para serem exequíveis, diz Ricardo Bramão, da Aporfest, os festivais deverão ter regras e procedimentos definidos até ao início de março. Também o público necessita de informação completa e a tempo para tomar as suas decisões.