Certas palavras e locuções, como "você", "o senhor", "Vossa Excelência", "Vossa Eminência", "Vossa Senhoria", funcionam como verdadeiros pronomes pessoais e, embora designem a pessoa a quem se fala, isto é, a 2.ª pessoa, exigem o verbo na 3.ª pessoa.
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Vejamos os seguintes exemplos: "O senhor deseja alguma coisa?", "você quer entrar?"
Quando nos dirigimos a alguém pelo seu título profissional ou académico (sr. doutor, sr. engenheiro; sr. major) ou apenas pelo nome próprio (A Maria João, o João) o verbo também deve estar na 3.ª pessoa: "O sr. doutor pode passar-me uma receita, por favor?"
Urge salientar que o tratamento por "você" não é muito usual em Portugal, embora se esteja a generalizar por influência brasileira
Este pronome, usado como forma de tratamento, entrou para o português no século XVII. Trata-se de uma redução de "vossa mercê", que passou para "vossemecê" e depois para "vosmecê", e que, devido à rapidez de pronúncia da palavra, foi reduzido para "você".
Em algumas zonas do nosso país, ainda é indicador de respeito, prendendo-se, semanticamente, ao original "vossa mercê".
Nos dias que correm, usa-se, normalmente, como forma de tratamento entre iguais ou de superior (em classe social, idade, hierarquia) para inferior.
Nas famílias da alta sociedade, o tratamento por "você" está associado a uma certa conotação carinhosa, de intimidade, sendo esta prática considerada como prova de fineza. Neste contexto, o uso de tal trato de inferior para superior é considerado uma provocação!
* Professora de Português e formadora para a área da língua portuguesa
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