Edições de autor com chancela são opção recorrente para quem sonha publicar um livro. Valor pode chegar aos oito mil euros.
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Os ingleses chamam-lhe "vanity press". Um termo depreciativo que sugere uma vaidade promocional dos autores, dispostos a tudo, até mesmo a custearem as próprias edições, para verem o seu livro publicado.
Não falta, todavia, quem veja na sua existência um conjunto de vantagens. A começar pelos próprios escritores. "Em última instância, mais vale publicar do que não publicar", defende Tiago Moita. Com oito livros já lançados neste regime, o autor sanjoanense até admite que muitas destas editoras são "fábricas de livros", "sem cuidado na revisão ou nos acabamentos", mas salienta o papel que desempenham "na democratização da edição" e "na aposta em novos autores", missão que as restantes editoras "abandonaram".
Em Portugal, as primeiras empresas que asseguraram as edições de autor com chancela remontam à década de 1980, mas seria preciso esperar 20 anos para que o fenómeno alastrasse. No início da década passada, a concentração editorial, alicerçada na tentativa de maximização dos lucros, apertou o crivo aos candidatos a autores, beneficiando este meio paralelo à edição.
promessas (in)cumpridas
Quantas são as empresas que asseguram este serviço, ninguém sabe ao certo. Nem a própria Associação Portuguesa de Editores e Livreiros. Até porque não estamos perante editoras na real aceção do termo.
"Trata-se de empresas de prestação de serviços que só na aparência são editoras iguais às outras. Os seus clientes não são os leitores, mas os próprios autores", resume a consultora editorial Rita Canas Mendes. A autora de "Como publicar um livro" aponta como falha recorrente destas edições "as promessas que raras vezes são cumpridas": "Regra geral, estas pseudoeditoras acenam com uma projeção mediática que nunca se concretiza. Se o autor não fizer um esforço de promoção, o livro cai logo no esquecimento".
No Portal da Queixa, são abundantes os casos de autores que afirmam ter sido lesados. É o caso de Sophya Paz: "Paguei 1700 euros por 250 exemplares do meu próprio livro. Que nunca foi colocado à venda em lado nenhum, nem divulgado".
Mas para o autor best-seller Raul Minh"Alma, que se estreou na publicação com um livro em que foi contratualmente obrigado a comprar parte da edição, o problema reside nas ilusões de quem escreve. "Há quem pense que compete às editoras fazer tudo, da promoção à distribuição", critica.
Para esbater "o forte estigma" que rodeia o segmento, têm surgido empresas que acenam com uma qualidade de serviço em nada inferior à das editoras tradicionais.
Por um valor que pode chegar aos 8 mil euros - se a edição for mais cuidada e volumosa ou forem contratados serviços adicionais como a revisão profissional, o live streaming, a assessoria de imprensa ou a tradução -, a Book Factory assegura um modelo em que o autor fica com a totalidade da edição. "Como cobramos para publicar, a nossa responsabilidade é muito maior", diz o editor, Paulo Lavadinho. Quanto ao investimento inicial elevado, o jornalista acredita que pode ser recuperado, caso se empenhe na venda de exemplares. "Temos autores que já publicaram pelo modelo habitual, recebendo 10% do preço do livro, e preferem trabalhar connosco, pois é mais recompensador", assegura.