Festival tem apresentado múltiplas propostas no Teatro Rivoli, no Porto. Do puro terror ao drama histórico, do "thriller" às artes marciais. É aproveitar até domingo.
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Já há muitos anos que o Fantasporto não se resume a filmes com mutantes e cadáveres assassinos - a estreia portuguesa de "Cães danados", de Quentin Tarantino, teve lugar ainda no tempo em que o festival se realizava no Teatro Carlos Alberto. Isso poderá desagradar a alguns puristas, ciosos da sua semana de "género", mas contribui também para atrair um público mais alargado, que ali poderá encontrar comédias, dramas históricos ou filmes de artes marciais, além, naturalmente, das inúmeras abordagens do cinema fantástico.
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Na sua 37.ª edição o festival voltou a afirmar essa diversidade, não só através das 60 nacionalidades representadas na programação, mas também na multiplicidade de géneros que têm sido exibidos nas duas salas do Teatro Rivoli. Vejamos três exemplos dessa heterogeneidade de propostas.
Naquele que o JN considera um dos fortes candidatos a arrecadar o prémio da Semana dos Realizadores - "The citizen", do húngaro Roland Vranik - somos colocados perante o drama de Wilson Ugabe, fugitivo da guerra civil na Guiné Bissau, que tenta a todo o custo obter a nacionalidade húngara. Nessa demanda vai encontrar o racismo e uma tramitação infinita de testes e papelada. Mas também uma relação calorosa com a sua professora de húngaro, com quem estabelece uma curiosa permuta musical - ela apresenta-lhe Béla Bartók e ele devolve-lhe Fela Kuti.
Ugabe, que torce pelo F.C. Porto, ajuda ainda uma outra refugiada proveniente do Irão. Atualíssimo na sua temática, e falamos na Hungria do ultraconservador Viktor Orbán, o filme recusa o miserabilismo e o politicamente correto, apresentando o drama pungente de um homem que pretende apenas seguir a sua vida. Espera-se a distribuição de "The citizen" nas salas portuguesas.
Mudando de agulha, passemos à comédia. Apresentado em antestreia, "Love is thicker than water", de Emily Harris e Ate de Jong, acompanha o início de relação entre dois jovens de mundos bem diferentes: Vida pertence a uma família abastada de judeus londrinos; Arthur cresceu numa pequena cidade costeira do País de Gales, Port Talbot. As diferenças de classe, mais evidentes ainda quando os pais de ambos se conhecem, atrapalham a relação, mas vão nutrindo o filme de situações burlescas. Sempre na corda bamba, a relação entra na fase decisiva quando se dá a coincidência de a mãe de Vida e o pai de Arthur falecerem na mesma noite. Outro filme que valeria pena trazer aos cinemas portugueses.
Gira-se novamente a tômbola e o Fantasporto solta a bola da ficção científica. "Division 19", de S. A. Halewood, apresenta um conjunto de boas ideias. Num futuro próximo, em que naves espaciais convivem com automóveis a dever anos à sucata, o estado desatou a prender gente por qualquer motivo - desde fumar na rua a desrespeitar o recolher obrigatório. E como as prisões se tornaram um ónus demasiado pesado para os contribuintes, nada como colocar câmaras por todo o lado e transmitir as imagens dos prisioneiros, gerando um "reality show" de grande sucesso que obtém as suas receitas com os subscritores e os patrocínios. Infelizmente, as boas ideias são estilhaçadas por um argumento com mais buracos que a Rua da Alegria, que descentraliza todo o interesse que poderia haver na situação sugerida e se perde num labirinto de minudências. Quase um manual para arruinar o que poderia ser um bom filme. Dispensa-se, naturalmente, a sua distribuição nas salas portuguesas.
A diversidade do Fantas continua até domingo, com filmes como "Enclosure", de Patrick Rea (sexta, 18.45 horas), "Don"t hang up", de Alexis Wajsbrot (sexta, 21 horas), a sessão especial do filme de culto de 1991 "Drop dead Freddy", de Ate de Jong (sábado, 16.30) ou "Through the Shadow", de Walter Lima Jr, que irá acompanhar a entrega de prémios do festival (sábado, 21 horas). No domingo, ao longo de todo o dia, serão exibidos os filmes premiados.